A IDEIA, O JUÍZO E O RACIOCÍNIO
AS TRÊS OPERAÇÕES DO ESPÍRITO
Da obra Métodos Lógicos e Dialéticos de Mário Ferreira dos Santos
"Quem conhece alguma coisa sobre as regras da Gramática, da Lógica e da Retórica sabe que elas governam as operações que realizamos pela linguagem, no processo da comunicação". Mortmer J. Adler - A Arte de Ler Livros.
"Quem conhece alguma coisa sobre as regras da Gramática, da Lógica e da Retórica sabe que elas governam as operações que realizamos pela linguagem, no processo da comunicação". Mortmer J. Adler - A Arte de Ler Livros.
Se a primeira operação da razão é conceitualizar (formular conceitos, a segunda é formular juízos e a terceira é o raciocínio ou inferência (inferências imediatas e mediatas) operação que consiste em extrair de um ou mais juízos, que se designam por premissas, um outro juízo, que é a conclusão. Ex:
Todos os Filósofos são sábios. 1° premissa
Alguns Gregos são filósofos. 2° premissa.
Portanto, alguns Gregos são sábios – conclusão.
1. A Ideia – Definição, a ideia, também chamada noção ou conceito, é a simples representação intelectual de um objeto. Diz-se que a ideia é uma representação porque constitui um ato cognitivo; simples, porque se distingue do juízo. Intelectual, porque não se confunde com a imagem que é a representação apenas sensível dos objetos.
A expressão verbal do conceito é o termo. Não devemos confundir o termo com a palavra. Um termo pode ser expresso por uma ou mais palavras. O termo se distingue também da ideia. Uma ideia pode ser expressa por vários termos, assim como um termo pode exprimir várias ideias.
Diante de uma série de aspectos semelhantes, deu-lhes o homem uma denominação genérica; o conceito. Em face de um, dois, inúmeros fatos semelhantes, chamou-os de árvore, montanha, rio, chuva, porque cada um desses termos designava, denominava fatos semelhantes, ou nos quais havia caracteres, dados parecidos, que se repetiam. Mas, cada árvore é uma árvore, singular, única, diferente de todas as outras; cada árvore, que é diferente, tem aspectos que se repetem nas outras que os têm em comum com aquela. Pois os aspectos que em todas se repetem, formam o conceito em seu sentido ideal, formam a ideia da árvore, que não é uma árvore singular, mas a árvore como ideia. Curso de Oratória e Retórica MFS p. 49 pdf.
Caracteres da ideia – a ideia é imaterial porque se apresenta desprovida de matéria, sobretudo quando exprime conceitos morais (justiça, virtude, etc.), ou metafísicos (substância, qualidade, etc.); é abstrata, porque isola e considera, separadamente, elementos que estão unidos nos objetos; é geral, porque seu conteúdo convém a um número ilimitado de objetos.
A ideia estudada sob o ponto de vista da lógica é diferente da estudada sob o ponto de vista da psicologia. Na psicologia, a ideia é considerada em sua gênese e em seu mecanismo, revelando-se então como uma síntese de imagens, como uma integração de elementos psíquicos, realizada através da sensação, da percepção, da abstração e da generalização. Na lógica, a ideia é considerada em si mesma, abstraída das causas que a produziram, caracterizando-se apenas pela sua aptidão para ser sujeito ou predicado de uma proposição.
Natureza da Ideia
Compreensão e extensão – numa ideia, e, portanto, num termo, podemos considerar a compreensão e a extensão. A Compreensão é o conjunto dos elementos que constituem a ideia. Assim, a ideia de homem implica os elementos – ser, ser vivo, sensível, racional. A extensão é o conjunto de indivíduos a que a ideia se aplica. A extensão da ideia de homem, por exemplo, abrange todos os homens existentes.
A compreensão de uma ideia está na razão inversa da sua extensão. Isto significa que, quanto mais simples for uma ideia, tanto mais geral ela será. Quanto mais composta, tanto mais particular. A ideia de ser é a menos datada de elementos e, por isso, a mais universal; a ideia de homem (ser homem), implicando maior número de elementos, só é aplicável a um grupo de seres; a ideia de homem brasileiro (ser homem brasileiro), que acrescenta a ideia de ser e de homem novos elementos, é ainda mais restrita em sua extensão; enfim, a ideia de José ou Pedro, cuja compreensão, é mais rica de elementos, (ser, homem, chamados José, Pedro) é também a mais limitada quanto à extensão.
Torna-se, assim, possível ordenar as ideias e, portanto, os seres que elas representam, segundo uma hierarquia baseada na sua extensão. A ideia superior em extensão chama-se gênero e a ideia que lhe é inferior, espécie.
Classificação das Ideias
Quanto a sua perfeição, as ideias podem ser:
- Adequadas – quando representam todos os elementos do objeto, inadequadas, no caso contrário.
- Claras, quando caracterizam, nitidamente, seu objeto; obscuras, no caso contrário.
- Distintas, quando tornam conhecidos todos os elementos do seu objeto; confusas, no caso contrário. (Distinção – na filosofia diz-se que uma coisa é distinta quando não é outra, uma ideia distinta particulariza-se, individualiza-se de modo a não confundir-se com outra),
Quanto à compreensão, podem ser:
- Simples, quando constituídas por um só elemento – a ideia de ser.
- Compostas, quando constituídas por mais de um elemento, a ideia de homem sábio.
Quanto à extensão, podem ser:
- Singulares ou individuais, quando representam um só indivíduo determinado, este homem, Aristóteles.
- Particulares, quando representam uma parte indeterminada de uma classe ou de um gênero: Vários homens, alguns animais.
- Universais, quando representam a totalidade dos indivíduos de um gênero ou de uma espécie determinada, a ideia de animal na expressão – os animais respiram.
Definição e divisão – as ideias, para se tornarem claras, devem ser analisadas, isto é, as noções mais simples que a constituem devem ser enumeradas. A análise das ideias, sob o ponto de vista da compreensão, dá-nos a definição e, sob o ponto de vista da extensão, dá-nos a divisão.
- Definição – de um modo geral, definir é explicar o sentido de uma palavra ou a natureza de uma coisa. Em lógica, definir é analisar a compreensão de uma ideia. Definição significa delimitar, isto é, circunscrever exatamente a compreensão de um objeto. A definição deve convir somente ao objeto definido e ser mais clara do que o mesmo.
- Divisão – de um modo geral, dividir é separar as partes de um todo. Em lógica, dividir é enumerar todos os elementos que uma ideia abrange por sua extensão. A divisão, que é uma operação complementar da definição, deve ser completa, irredutível e baseada sobre o mesmo princípio.
2. O Juízo Noções de Juízo – uma vez concebida as ideias, a inteligência procura determinar-lhes as relações. É o que se chama julgar. Juízo, é, assim, o ato pelo qual o espírito afirma ou nega uma coisa de outra. O homem é mortal, a planta não é racional, são juízos. No primeiro, afirmamos a mortalidade do homem e, no segundo, negamos a racionalidade da planta.
Para a lógica, o juízo é um objeto ideal, uma forma de pensamento, para a psicologia, é um fato real, uma função psíquica condicionada por vários fatores que podem ser estudados. (fazer da ideia ao juízo, convite à filosofia)
Elementos do juízo – o juízo se compõem de três elementos:
- Um sujeito de quem se afirma ou se nega alguma coisa.
- Um atributo ou predicado, que é coisa que se afirma ou se nega ao sujeito.
- Uma afirmação ou negação.
O sujeito e o atributo constituem a matéria do juízo, e a afirmação ou negação representam a sua forma.
Divisão dos juízos – os juízos podem ser classificados quanto à forma e quanto a matéria. No primeiro caso temos:
Quanto a forma:
Juízos afirmativos – quando afirmam uma relação de conveniência entre o sujeito e o predicado.
Juízos negativos – quando negam uma relação de conveniência entre o sujeito e o predicado.
Quanto a matéria:
Juízos analíticos – quando a ideia do predicado está contida (implicada) na ideia do sujeito – Ex: Todo homem é racional. (o predicado nada acrescenta à ideia do sujeito).
Juízos sintéticos – quando a ideia do predicado não está contida na ideia do sujeito – Ex: Este homem é velho. (o predicado acrescenta algo á ideia do sujeito).
Síntese– do grego syn, com e thesis, posto, composição a) Ato pelo qual compomos, reunimos, juntamos elementos diversos, dados separadamente, unindo-os numa totalidade. Neste sentido opõe-se a análise.. b) Metodologicamente considerado, é a tomada como totalidade dos fatos simples, distinguidos pela análise. C) emprega-se também para indicar a operação que partindo dos fatos singulares ou particulares, alcança ao conjunto.
JUÍZOS SINTÉTICOS: são aqueles em que o predicado acrescenta algo ao sujeito, ou seja, o predicado mostra algo além do que já está implícito na ideia do sujeito. São a posteriori por dependerem da EXPERIÊNCIA. EXEMPLO: ESTE TRIÂNGULO É VERMELHO.
Em "Crítica da Razão Pura" Kant nos demonstra a diferença crucial entre os Juízos Analíticos e Sintéticos. Em todos os juízos em que se concebe a relação de um sujeito com um predicado (considerando os juízos afirmativos, pois nos negativos é mais fácil fazer, depois a aplicação) esta relação é possível de dois modos: ou o predicado B pertence ao sujeito A como algo nele contido (Juízo Analíticos), ou B é completamente estranho ao conceito de A (Juízo Sintético) apesar de "enlaçado" com ele.
Ver Teoria dos Juízos de Kant.
IMPLICÂNCIA – Quando tomamos um pedaço de pano, e o dobramos para coser, diz-se que se faz uma prega. Essa palavra vem de plicare, latina, pregar. E quando um conceito está plicado em outro, embrulhado em outro, temos um conceito implicado em outro. E temos, então, o termo implicado, na Filosofia. Então os conceitos estão implicados em outros, e essa característica de serem tal é a implicância. Mas às vezes, mais de um conceito estão implicados em outro, estão complicados, temos a complicância.
Assim como sucede com os conceitos, sucede com os juízos. Um juízo pode estar implicado em outro. Assim, quando digo que todos os homens são mortais, tenho implicado – Alguns homens são mortais. – como também – este homem é mortal. Então, de um juízo universal, que inclui todos, posso tirar alguns que já estão implicados, como também um, que também está implicado. MFS Convite à Filosofia e à História da Filosofia, p 31 livro. Dicionário MFS – IMPLICAÇÃO – etimologicamente significa o que é contido em outro, o ser contido em outro. Diz-se que um objeto de conhecimento implica outro, se dado o primeiro, o segundo decorre necessariamente. B. Também quando há implicação de uma ideia em outra, se a primeira não pode ser pensada sem a segunda como nos correlativos – pai e filho, senhor e escravo, etc.
DEDUÇÃO INDUÇÃO – Convite à Filosofia e à História da Filosofia, p. 14 pdf – (...) de um juízo universal, que inclui todos, posso tirar alguns que já estão implicados, como também um que também está implicado. Quando faço tal, eu deduzo, eu tiro (de ducere, latim, conduzir, daí duce, o guia, condutor). Quando deduzo, tiro um juízo de outro; eu deduzi. E chama-se dedução essa atividade do espírito que consiste em tirar de um juízo universal um juízo particular.
Mas posso proceder de maneira inversa (numa versão in, contrário). Posso partir de particularidades para chegar a uma generalidade. Vejamos como procede o espírito humano: Se eu soltar este livro aqui no ar, ele cai. É um corpo pesado, e cai. E cai também este copo, este cinzeiro. E verifico ainda mais, que todos os corpos pesados soltos no espaço caem. E assim o verificam todos os homens. Posso, então, desses fatos particulares, formar o juízo universal de que todos os corpos pesados, soltos no espaço caem.
Então que fiz: deduzi? Não, eu duzi in, para, pois o termo in em latim também significa para; eu conduzi para, eu induzi, e temos a indução.
São, pois, dois os métodos (meth’odos que quer dizer, caminho, caminho real, verdadeiro, bom, daí o método, o bom caminho para chegar a alguma coisa).
Método dedutivo – que parte do geral para o particular.
Método Indutivo – que parte do particular para o geral.
A Filosofia é, em geral dedutiva; A Ciência, por exemplo, é mais indutiva. A Ciência parte dos fatos particulares (observados pela experiência) para estabelecer juízos universais, dos quais depois deduz outros particulares: é indutiva-dedutiva.
A Filosofia, em geral, deduz, e muitos julgam até que sua única atividade é dedutiva, enquanto outros defendem também o método indutivo-dedutivo e o dedutivo-indutivo.
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