quarta-feira, 21 de novembro de 2018

O Conservadorismo Anglo-Saxão 12 - Os Heróis se Retiram

 

Empreendo escrever a história de um pequeno número de homens que, arremessados pela Providência ao centro do maior drama dos tempos modernos, resumem em si as ideias, as paixões, as faltas, as virtudes de uma época; e cuja vida e política formando, por assim dizer, o nó da Revolução Francesa, foram cortadas pelo mesmo golpe que despedaçou os destinos de seu país.

Esta história, cheia de sangue e de lágrimas, está cheia também de ensino para os povos. Nunca talvez tão trágicos acontecimentos se passaram num espaço de tempo tão breve; nunca também esta misteriosa correlação que existe entre os atos e suas consequências se desenrolou mais rapidamente. Nunca as fraquezas engendraram mais depressa as faltas; as faltas os crimes; e os crimes o castigo. Esta justiça remuneratória que Deus colocou em nossos próprios atos como uma consciência mais santa do que a fatalidade dos antigos, nunca se manifestou com maior evidência; nunca a lei moral rendeu a si mesma um mais brilhante testemunho, e não se vingou mais implacavelmente. De sorte que a simples narração destes dois anos é o comentário mais luminoso de toda uma grande revolução; e o sangue espalhado, a ondas, não grita ali somente terror e piedade, mas lição e exemplo aos homens. É neste espirito que os narro. Lamartine, História dos Girondinos.

Pauvre France, jamais plus glorieuse.

Ele faz então um sinal aos tambores que se achavam em sua frente. Impressionados, os soldados param de bater:

"Franceses - brada o Rei com voz audível até à extremidade da praça - eu morro inocente. Perdôo aos autores de minha morte, e peço a Deus que o sangue que vai ser derramado não caia jamais sobre a França! E vós, ó povo desafortunado..." (cfr. G. Lenotre e André Castelot, Les grandes heures de la Révolution Française – La mort du Roi, p. 295).

O Rei pretende continuar sua objurgatória, mas um homem a cavalo, em uniforme da guarda nacional, desfere a espada sobre um dos tambores e força-os a cobrir a voz do Rei com o seu ruído. Nesse instante supremo, a um passo da guilhotina, os revolucionários ainda temem que as palavras do Rei comovam a multidão e todo o processo revolucionário retroceda!

Os algozes estendem o Rei sobre a plataforma, a lâmina cai pesadamente sobre a nuca de Luis XVI e sua cabeça rola pelo chão. O infame carrasco toma-a enquanto ainda gotejava sangue e dá a volta por todo o patíbulo, para que o povo inteiro tome conhecimento de que o Rei estava decapitado. 

Pauvre France, jamais plus glorieuse.

Para Luís XVI, a luz do sol não brilhará mais neste mundo, a não ser no dia em que todos ressuscitarmos.

Foi no momento em que o Rei estava sendo estendido para receber o golpe fatal que, segundo algumas narrações, o Abbé Edgeworth de Firmont teria exclamado as sublimes palavras: "Filho de São Luís, subi ao Céu!"

Várias testemunhas afirmam a autenticidade dessa apóstrofe. O sacerdote irlandês, entretanto, sempre negou tê-la pronunciado. De onde se pode pensar que, ou o Abbé de Firmont fez essa exclamação movido por uma inspiração divina, e depois dela se esqueceu (fato facilmente compreensível, na emoção em que se encontrava), ou a frase foi criada por outrem a fim de exprimir - aliás de modo muito feliz - a realidade profunda desse instante histórico (cfr. Nesta H. Webster, Louis XVI and Marie Antoinette During the Revolution, Constable and Company Ltd, London, p. 524; Weiss, Historia Universal, Tipografia La Educación, Barcelona, 1931, vol. XVII, p. 98.).


Faz agora dezesseis ou dezessete anos desde que vi a Rainha da França, naquela época a Delfina, em Versalhes, e certamente jamais pisou neste globo (olhos), que ela apenas parecia tocar, uma visão mais deliciosa. Vi-a bem acima do horizonte, decorando e alegrando a esfera celeste em que principiou a mover-se – cintilante como a estrela da manhã, cheia de vida, esplendor e alegria. Oh, que revolução! E que coração devo eu ter para contemplar, sem emoção, essa elevação e essa queda! (coação exercida pela turba sobre Luís XVI e Maria Antonieta em Versalhes, fazendo-os voltar a Paris para serem confinados nas Tulherias, sob a vigilância popular, 5 de outubro de 1789). Mal podia eu sonhar, quando, ao lhe tributar títulos de veneração acrescidos aos de um amor entusiasta, distante e respeitador, que ela um dia fosse obrigada a levar escondido em seu seio aquele forte antídoto contra a desgraça. Mal podia eu sonhar que viveria para ver esses desastres recaírem sobre ela em uma nação de homens valorosos, em uma nação de homens honrados e cavalheiros. Pensei que mil espadas seriam logo tiradas de suas bainhas para vingar um olhar sequer que a ameaçasse insultuosamente. Mas a era do cavalheirismo foi-se. Sucedeu-a a dos sofistas, economistas e calculadores, e a glória da Europa extinguiu-se para sempre. 

Pauvre France, jamais plus glorieuse.

À medida que a Revolução Francesa avançava, Charles James Fox viu-se em minoria, a qual cada vez, mais diminuía no Parlamento e no país. Muitos de seus aliados foram conquistados para o ponto de vista de que a Inglaterra devia unir-se à Prússia e à Áustria na guerra contra a França. Depois da execução de Luís XVI, o próprio Fox posicionou-se contra a Revolução, opondo-se, entretanto, à entrada na guerra.


Quando, apesar de tudo, a guerra veio, ele consolou-se com a bebida, com a leitura dos clássicos e casando-se (1795) com sua antiga amante (assim como a de Lorde Cavendish, Lorde Derby e Lorde Cholmondeley) Mrs. Elizabeth Armstead, que lhe pagou as dívidas. Louvou a Paz de Amiens (1802), viajou pela França, foi aplaudido naquele país com honra civis e militares, sendo recebido por Napoleão como um patriota da civilização. Em 1806, serviu na qualidade de secretário do Exterior, em um Ministério de Todos os Talentos. Trabalhou para manter a paz com a França, apoiando ativamente a campanha de Wilberforce contra o tráfico de escravos. Quando teve notícia de um complô para matar Napoleão, enviou ao imperador um aviso através de Talleyrand. Se a saúde de Fox não tivesse entrado em colapso, talvez pudesse ele encontrar meios de reconciliar a ambição de Bonaparte com a segurança da Inglaterra. 

Mas, em julho de 1806, ficou incapacitado com um edema. Várias operações muito penosas não conseguiram deter o progresso do mal. Fez as pazes com a Igreja oficial e, em 13 de setembro, morreu, lamentado por amigos e inimigos e até pelo rei. Foi o homem mais querido de seu tempo. 

Pitt, o Moço, prematuramente velho, precedeu-o nas criptas da abadia. Também este verificou que só podia suportar o ritmo da vida política por meio da ocasional amnésia da bebida. A sanidade mental de Jorge III era um constante problema. Qualquer conflito sério de pontos de vista entre o rei e o ministro poderia desequilibrar a cabeça coroada, trazendo a regência do Príncipe de Gales, que destituíra Pitt e chamaria Fox. De forma que Pitt abandonou os planos de reforma política retirando sua oposição ao tráfico de escravos, quando viu que nestes, como em muitos outros assuntos, Jorge III era irritável e resolvido a perpetuar o passado. Pitt concentrou o seu gênio sobre a legislação econômica, no que serviu a ascensão da classe média. Muito constrangido, conduziu a Inglaterra numa guerra contra o que ele chamava uma nação de ateus. Não foi um bom ministro da guerra. Temendo a invasão da Irlanda pela França, tentou acalmar os irlandeses com um programa de união parlamentar e emancipação católica. O rei criou obstáculos e Pitt demitiu-se (1801). Voltou (1804) para chefiar o ministério. Napoleão revelou-se demais para ele, e quando chegou a notícia da vitória francesa em Austerlitz (2 de dezembro de 1805), que tornou Napoleão dono do Continente, Pitt entrou em colapso de corpo e alma. Ao ver um mapa da Europa, pediu a um amigo: Enrole este mapa, durante dez anos não vai ser necessário. Morreu em 23 de janeiro de 1806, honradamente pobre, com apenas 46 anos.

A vida levou mais tempo para destruir Sheridan. Juntou-se a Burke e Fox na defesa da América e nos ataques a Hastings. Apoiou Fox no aplauso à Revolução Francesa. Nesse meio tempo, aquela esposa cujo encanto e disposição amável eram o tema favorito entre os amigos dele, e que havia posto sua beleza a serviço das eleições para auxiliá-lo a obter um lugar no Parlamento, morreu turberculosa com 38 anos (1792). 

Sheridan entrou em colapso. Eu o vi, disse uma de suas relações, chorando noite e dia como uma criança. Encontrou algum consolo na filha, mas ela morreu no mesmo ano. Durante aqueles meses de desgosto, considerou a tarefa da reconstrução do Teatro Drury Lane, que se tornara muito velho e fraco para inspirar segurança, e para financiar a reforma contraiu pesada dívida. Tinha-se habituado a uma vida de luxo, que sua renda não podia manter. Fez empréstimos para continuar naquele estilo de vida. Quando os credores chegaram, ele os tratou como lordes, entretendo com bebidas, amabilidades e graça; ao se retirarem, estavam tão satisfeitos que quase se esqueceram das dívidas. Permaneceu ativo no Parlamento até 1812, quando não conseguiu reeleger-se. Como Membro do Parlamento tinha imunidades e, portanto, não podia ser preso. Os credores fecharam o cerco em cima dele, carregando seus livros, quadros, joias. Finalmente tentaram leva-lo para a prisão, mas seu médico avisou que Sheridan podia morrer no caminho. Ele sucumbiu no dia 7 de julho de 1816, com 65 anos. No seu enterro era novamente rico, pois sete lordes e um bispo o levaram para a abadia. 



terça-feira, 20 de novembro de 2018

O Conservadorismo Anglo-Saxão 11 - Inglaterra e a Revolução Francesa

 Will & Ariel Durant, História da Civilização

Após quase exaurir-se na guerra contra a Companhia das Índias Orientais, Burke virou-se para a Revolução Francesa como sua inimiga pessoal, e, no decurso dessa nova campanha deu uma grande contribuição à filosofia política.

Previra a Revolução vinte anos antes dela ocorrer. “De tal forma debatem-se as finanças da França, em situação difícil e perturbadora, suas despesas ultrapassando de tal forma as receitas em todos os setores, que qualquer um que examine seus negócios com certo grau de atenção ou informação, não pode deixar de esperar a cada movimento um extraordinário colapso de todo o sistema, cujos efeitos, na França e até mesmo em todo a a Europa, são difíceis de conjecturar". Em 1772, foi à França. Em Versalhes, viu Maria Antonieta, então Dauphine. Jamais se esqueceu daquela visão de juventude e beleza, felicidade e altivez.  Teve a impressão favorável da nobreza francesa e ainda mais do clero francês. Escandalizou-se com a propaganda anticatólica, e às vezes, anti-religiosa, dos philosophes. De volta à Inglaterra, advertiu seus patrícios contra o ateísmo, “o golpe mais horrível e cruel que se possa dar na sociedade civil”.

Quando do advento da Revolução, fico alarmado pela aclamação que esta recebeu de seu amigo Fox, que saudou a queda da Bastilha como “o maior evento jamais acontecido no mundo (...) e o melhor". Ideias radicais oriundas das campanhas de Wilkes e da Sociedade dos Defensores da Carta dos Direitos lentamente espalharam-se na InglaterraEm 1761, um escritor obscuro propôs o comunismo como cura para todos os males sociais, com exceção da superpopulação, a qual podia anular qualquer tentativa para minorar a pobreza. Em 1788, formou-se uma Sociedade para Comemorar a Revolução de 1688 (Revolução Gloriosa), tendo entre seus membros importantes clérigos e pares do reino. Em 4 de novembro de 1789, por ocasião de sua reunião, ficaram tão perturbados por um padre unitário, Richard Price, que mandaram uma mensagem de congratulações à Assembleia Nacional em Paris, expressando a esperança de que o “glorioso exemplo dado pela França” pudesse “encorajar outras nações a estabelecer o direito inalienável da humanidade”. A mensagem foi assinada pelo terceiro Conde Stanhope, presidente da sociedade e cunhado de William Pitt.

O sermão e a mensagem despertaram o temor e o rancor de Burke. Tinha então, sessenta anos, alcançado o direito de ser conservador. Era religioso e proprietário de grande extensão de terras. A Revolução lhe parecia não só “o fato mais surpreendente até então ocorrido no mundo” como também a agressão mais ultrajante contra a religião, a propriedade, a ordem e a lei. Em 9 de fevereiro de 1790, declarou na Câmara dos Comuns que se algum de seus amigos tentasse introduzir na Inglaterra semelhante democracia, como a que estava se concretizando na França, ele renunciaria a essa amizade por mais duradoura e carinhosamente estimada que fosse. Fox acalmou o orador com o seu famoso elogio a Burke, declarando-o o seu melhor educador. O rompimento entre os dois foi adiado.

Em novembro de 1790, Burke publico Reflexões Sobre a Revolução em França na forma de uma carta (365 páginas) a “um cavalheiro em Paris”. Chefe dos liberais durante a Revolução Americana, Burke era então o herói da Inglaterra conservadora. Jorge III expressou seu contentamento com o velho amigo. O livro tornou-se a bíblia das cortes e aristocracias.

Na época, a compreensão de Burke sobre a Revolução Americana - de que o Parlamento contribuía para a instabilidade através do rompimento com as expectativas do eleitorado americano em relação à sua autonomia [do Parlamento] — foi extremamente influente. Burke foi essencial para estabelecer um acordo que solucionou, por algum tempo, a Crise da Lei do Selo. "A Lei do Selo (Stamp Act ou Duties in American Colonies Act 1765, em inglês) foi aprovada pelo Parlamento Inglês em 1765, estabelecendo que todos os documentos em circulação na colônia americana deveriam receber selos provenientes da metrópole. A Lei do Selo determinava que todos os jornais, livros e documentos publicados nas colônias deveriam pagar uma taxa, o que implicava mais despesas para os colonos. Foi revogada em 1766" Lamentavelmente, mentes frias como a de Burke não prevaleceram, o Parlamento retomou suas políticas agressivas e a guerra pela independência seguiu-se. 

Catarina a Grande, outrora amiga e querida dos philosophes, enviou congratulações ao homem que se propusera destrona-los.

Burke começou com uma referência ao Dr. Price e à Sociedade para Comemorar a Revolução. Deplorou a entrada de eclesiásticos nas discussões políticas. Tinham por obrigação guiar as almas à caridade cristã, e não fazer reformas políticas. Não confiava no sufrágio universal pleiteado por Price. Achava que a maioria seria pior tirano do que o rei, e que a democracia degeneraria em domínio do populacho. A sabedoria não reside nos números, mas na experiênciaA natureza nada sabe a respeito de igualdade. A igualdade política é uma “ficção monstruosa, que, inspirando ideias falsas e vãs expectativas nos homens destinados a percorrer os obscuros caminhos de uma vida laboriosa, serve apenas para agravar aquela desigualdade real que nada pode removerA aristocracia é inevitável, e quanto mais velha for, melhor cumprirá sua função de silenciosamente instituir a ordem social sem a qual não poderá haver estabilidade, nem segurança, nem liberdade. A monarquia hereditária é boa porque dá ao governo uma unidade e continuidade sem a qual as relações sociais e legais entre os cidadãos cairia numa torrente agitada e caótica. A religião é boa porque ajuda a agrilhoar esses impulsos anti-sociais que correm como um fogo subterrâneo sob a superfície da civilização, e que somente poderá ser controlada pela constante cooperação do Estado e da Igreja, lei e credo, medo e reverência. Aqueles filósofos franceses que minaram a crença religiosa nas camadas educadas de seu povo, estavam levianamente largando as rédeas que impediam os homens de se tornarem animais.

Burke revoltou-se com o triunfo da plebe em Versalhes sobre um “nobre e legítimo monarca” tratando-o com “mais fúria, ultraje e insulto do que sobre qualquer um” que se levantasse “contra o mais ilegal usurpador e o tirano mais sanguinário.” Entra aqui a famosíssima página, que fez vibrar nossa mocidade:

Faz agora dezesseis ou dezessete anos desde que vi a Rainha da França, naquela época a Delfina, em Versalhes, e certamente jamais pisou neste globo (olhos), que ela apenas parecia tocar, uma visão mais deliciosa. Vi-a bem acima do horizonte, decorando e alegrando a esfera celeste em que principiou a mover-se – cintilante como a estrela da manhã, cheia de vida, esplendor e alegria. Oh, que revolução! E que coração devo eu ter para contemplar, sem emoção, essa elevação e essa queda! (coação exercida pela turba sobre Luís XVI e Maria Antonieta em Versalhes, fazendo-os voltar a Paris para serem confinados nas Tulherias, sob a vigilância popular, 5 de outubro de 1789). Mal podia eu sonhar, quando, ao lhe tributar títulos de veneração acrescidos aos de um amor entusiasta, distante e respeitador, que ela um dia fosse obrigada a levar escondido em seu seio aquele forte antídoto contra a desgraça. Mal podia eu sonhar que viveria para ver esses desastres recaírem sobre ela em uma nação de homens valorosos, em uma nação de homens honrados e cavalheiros. Pensei que mil espadas seriam logo tiradas de suas bainhas para vingar um olhar sequer que a ameaçasse insultuosamente. Mas a era do cavalheirismo foi-se. Sucedeu-a a dos sofistas, economistas e calculadores, e a glória da Europa extinguiu-se para sempre.

Sir Philip Francis riu-se de tudo isso como um devaneio romântico, assegurando a Burke que a rainha da França era uma Messalina e uma mulher qualquer. Assim pensaram muitos ingleses patriotas. Horace Walpole, todavia, afirmou que Burke havia descrito Maria Antonieta exatamente como ela me apareceu, na primeira vez em que a vi quando delfina.

À medida que a Revolução prosseguia, Burke continuava os ataques com uma Carta a um Membro da Assembleia Nacional (janeiro de 1791), na qual sugeria que os governos da Europa deveriam unir-se para por fim à revolta, restabelecendo o rei da França ao seu poder tradicional. Fox alarmou-se com a proposta, e, a 6 de maio, na Câmara dos Comuns, os amigos que haviam lutado lado a lado em tantas campanhas chegaram a uma dramática separação de seus caminhos. Fox reiterou seu elogio à Revolução. Burke levantou-se para protestar. É inoportuno, disse, em qualquer ocasião, mas especialmente a esta altura de minha vida, provocar inimigos, ou dar aos amigos motivos para abandonar-me. No entanto, se minha firme e inabalável adesão à constituição inglesa coloca-me em tal dilema, estou pronto a correr o risco. Fox assegurou-lhe que nenhuma separação de amizade estava envolvida nas suas divergências. Sim, sim, respondeu Burke, há uma perda de amigos, sei o preço da minha conduta (...) Nossa amizade está no fim. Nunca mais falou com Fox, exceto formalmente, na força da união dos dois durante o julgamento de Hastings.

Em seus escritos sobre a Revolução Francesa, Burke deu uma expressão clássica a uma filosofia conservadora. Seu princípio básico é não confiar no raciocínio de um indivíduo, mesmo brilhante, se ele entra em conflito com a tradição da raçaAssim como a criança não pode compreender as razões dos cuidados e proibições dos pais, da mesma forma o indivíduo, que é uma criança em comparação com a raça, não pode sempre compreender as razões dos costumes, convenções e leis que personificam a experiência de muitas geraçõesA Civilização seria impossível se a prática de todos os deveres morais, assim como os alicerces da sociedade, se apoiassem em tornar suas razões claras e concludentes a cada indivíduo. Até os preconceitos possuem sua utilidade. Prejulgam problemas atuais com base nas experiências passadas.

De modo que o segundo elemento do conservadorismo é a prescrição: a tradição ou instituição deveria ser duplamente reverenciada e raramente alterada quando já está escrita, ou consubstanciada na ordem social ou estrutura governamental. A propriedade privada é um exemplo de prescrição e da aparente irracionalidade do bom senso: parece absurdo que uma família tenha tanto e uma outra tão pouco, e ainda mais insensato que aquele que tem muito transmita sua propriedade a herdeiros que não levantaram uma palha para ganha-la. No entanto, a experiência demonstrou que os homens, em geral, não se abalarão para trabalhar e estudar, ou em laboriosos e custosos preparativos, a menos que possam chamar os resultados de seus esforços sua legítima propriedade, a serem transmitidos, em grandes proporções, segundo seus desejos. E a experiência demonstrou que a posse de bens é a melhor garantia de uma prudente legislação e da continuidade do Estado.

Um Estado não é apenas a associação de pessoas em determinado espaço e momento. É uma associação de indivíduos através dos tempos. A sociedade é na verdade um contrato (...) uma sociedade não apenas entre vivos, mas que entre estes e os que estão mortos, e aquele que ainda vão nascer; e essa continuidade é o nosso país. Nessa trindade conjunta a atual maioria poderá vir a ser uma minoria com o decorrer do tempo, e o legislador deve considerar os direitos do passado (através da prescrição) e do futuro assim como do presente. A política é, ou deveria ser, a arte de conciliar os objetivos das minorias conflitantes com o bem do grupo que está continuando. Além disso, não existem direitos absolutos, e sim abstrações metafísicas desconhecidas da natureza. Há apenas desejos, poderes e circunstâncias, e estas, circunstâncias dão a todo princípio político sua cor distintiva e efeito discriminatório. A conveniência é muitas vezes mais importante do que os direitos. A política deve ser ajustada não ao raciocínio abstrato humano, mas à natureza do homem, da qual o raciocínio é apenas uma parte, e de maneira alguma a mais importante. Devemos utilizar os materiais existentes.

Todas essas considerações são ilustradas pela religião. As doutrinas, mitos e cerimônias de uma religião podem não se adaptar ao nosso atual raciocínio individual, mas este fato será de menor importância no momento se forem compatíveis com as necessidades passadas, presentes e presumivelmente futuras da sociedade. A experiência demonstra que as paixões humanas só podem controlar-se pelos ensinamentos e observância da religião. Se formos mostrar nossa nudez (dar vazão aos nossos instintos) afastando-nos da religião cristã que tem sido (...) um grande manancial de civilização entre nós (...) tememos (conscientes de que o espírito não suportará um vazio) que uma superstição inculta, perniciosa e degradante tome o seu lugar.

Muitos ingleses rejeitaram o conservadorismo de Burke como um culto da estagnação, tendo Thomas Paine lhe respondido energicamente em Os direitos do Homem (1791-92). Contudo, a Inglaterra da velhice de Burke em geral apoiava o seu culto do antepassado. Quando a Revolução Francesa passou aos Massacres de Setembro, à execução do rei e da rainha e ao Reinado do Terror, a grande maioria dos ingleses sentiu que Burke havia previsto muito bem os resultados da revolta e a falta de religião, e durante um século completo a Inglaterra, embora eliminando seus burgos putrefatos e ampliando seu sufrágio, ateve-se resolutamente à sua constituição de rei, aristocracia, Igreja estabelecida e Parlamento pensando mais em termos de poderes reais do que dos direitos do povo. Após a Revolução, a França passou de Rousseau a Montesquieu, e Joseph de Maistre parafraseou Burke para os franceses arrependidos. Burke insistiu até o fim em sua campanha em prol de uma guerra santa, regozijando-se quando a França declarou guerra à Grã-Bretanha (1793). Jorge III desejou recompensar seu velho inimigo pelos recentes serviços, agraciando-o com a posição de par do reino e, com ele, o título de Lorde Beaconsfield, com o qual, mais tarde, Disraeli foi contemplado. Burke recusou, porém, aceitou a pensão de 2500 libras (1794). Quando surgiram rumores de negociações com a França, ele publicou Cartas sobre uma Paz Regicida (1797), clamando apaixonadamente para que a guerra continuasse. Só a morte abrandou-lhe o ardor (8 de julho de 1797). Fox propôs que ele fosse enterrado na Abasia de Westminster, mas Burke havia deixado instruções no sentido de um funeral simples, desejando ser enterrado na igrejinha de Beaconsfield. Macaulay considerou-o o maior inglês depois de Milton – o que pode ter diminuído Chatham e Lorde Morley, mais prudente, chamou-o o maior mestre de critério civil em nosso idioma – o que pode ter desconsiderado Locke. De qualquer modo, Burke foi o que os conservadores ansiavam, em vão, durante toda a Idade da Razão – um homem que pudesse defender os costumes de maneira tão brilhante quanto a de Voltaire na defesa da razão.

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

O Conservadorismo Anglo-Saxão 10 - Inglaterra e Índia

 Will & Ariel Durant, História da Civilização

    A Companhia Britânica das Índias Orientais havia sido reorganizada em 1709 como United Company of Merchants of England trading to the Indies” (Companhia Unida de Comerciantes da Inglaterra negociando com as Índias).  A carta-régia do governo britânico autorizava-a ao monopólio do comércio inglês com a Índia. Era administrada por um presidente e 24 diretores eleitos anualmente por uma Diretoria de Proprietários, na qual todos os acionistas com quinhentos ou mais libras em ações tinham direito a voto. Na Índia, a companhia tornou-se uma organização tanto comercial como militar, combatendo os holandeses, franceses e os exércitos nativos por pedaços do império mogol, que se desmoronava. Foi em uma dessas guerras que Siraj-ud-daula, o nababo (vice-rei) de Bengala, conquistou Calcutá da Companhia, prendendo 146 europeus no “Buraco Escuro de Calcutá” – um pavimento de 6 x 4m, com apenas duas pequenas janelas. Durante a noite, morreram 123 prisioneiros (20-21 de junho de 1576) de calor ou asfixia. 

Roberte Clive, governador do Forte São Davi, dirigiu um pequeno contingente a fim de recapturar Calcutá para a companhia. Aderiu ao conluio de Mir Jafar, um nobre da corte de Siraj-ud-daula, para derrubar o vice-rei. Com novecentos europeus e 2300 soldados nativos, derrotou cinquenta mil homens em Plassey (23 de junho de 1757); Siraj-ud-daula foi condenado à morte, e Mir Jafar tomou o seu lugar na qualidade de nababo de Bengala. Clive entrou na capital, Murschidadab, como um conquistador. Parecia-lhe semelhante a Londres em tamanho e talvez superior em riqueza. No tesouro do nababo viu incrível quantidade de rupias, joias, ouro, prata e outras riquezas. Solicitado a dizer qual seria sua recompensa por ter colocado Mir Jafar no trono, pediu 160 mil libras para ele, quinhentos mil para seu exército e marinha, 24 mil para cada um dos membros do conselho administrativo da companhia, e um milhão de libras de indenização pelos danos sofridos pela propriedade da companhia em Calcutá. Foi a essa ocasião que Clive se referiu quando contou na Câmara dos Comuns ter-se admirado da sua própria moderação. Recebeu um total de duzentas mil libras como presente de Mir Jafar, sendo reconhecido como governador britânico em Bengala. Por ter pago um aluguel anual de 27 mil libas a Mir Jafar, a Comanhia foi reconhecida como proprietário supremo de 1300 quilômetros ao redor de Calcutá. Em 1759, em retribuição ao auxílio prestado na supressão de um levante, Mir Jafar concordou em remeter anualmente a Clive o aluguel pago pela Companhia.

    Livre de qualquer competição, a Companhia explorou com muito pouca clemência os nativos sujeitos a seus regulamentos. Armada superiormente, fez os dirigentes hidus pagarem caro pela proteção britânica. Longe da supervisão do governo inglês, e imunes aos Dez Mandamentos, a leste de Suez seus funcionários graduados obtiveram vultosos lucros no comércio, voltando à Inglaterra como ricaços capazes de comprar, sem graves danos para o seu capital, burgos eleitorais ou um membro do Parlamento

    Clive voltou para a Inglaterra em 1760, com 35 anos, esperando gozar fama e dinheiro. Comprou burgos suficientes para controlar um partido nos Comuns, sendo ele mesmo eleito por Shrewsbury. Alguns diretores da Companhia das Índias Orientais, achando que ele havia roubado além de seus anos, atacaram-no por ter usado documentos falsificados nas transações com Siraj-ud-daula e Mir Jafar, mas quando ouviram dizer em Londres que revoltas dos nativos, venalidade oficial e incompetência administrativa estavam pondo em perigo a posição da Companhia na Índia, mandaram Clive correndo de volta a Calcutá (1765) na qualidade de governador de Bengala. Uma vez lá, tentou cortar pela raiz a corrupção entre seus auxiliares, motim entre as tropas e repetidos levantes dos dirigentes nativos contra a Companhia. Em 12 de agosto de 1765, convenceu o indefeso Mogol Shah Alam a dar a Companhia amplo controle financeiro das províncias de Bengala, Behar e Orissa, como uma população de trinta milhões de almas e uma renda anual de quatro milhões de libras. Isto, e a vitória de Clide em Plassey, criaram o império Britânico da Índia. 

    Com a saúde destruída por dois anos de luta, Clive voltou à Inglaterra em 1767. Renovaram-se ataques contra ele pelos diretores da Companhia, os quais foram reforçados pelos funcionários cujas extorsões ele havia obstado. Notícias de uma grande fome na Índia, assim como ataques de nativos contra as fortificações da Companhia, contribuíram para causar um pânico em que ingleses ilustres sofreram grandes perdas. Em 1772, duas comissões parlamentares investigaram os negócios na Índia, revelando tais extorsões e crueldades que Horace Walpole exclamou: Ultrapassamos os espanhóis no Peru! Matamos, destituímos, saqueamos, usurpamos. EUA mais ainda: o que pensam da fome em Bengala, em que três milhões morreram, fome essa causada por um monopólio de provisões pelos empregados da Companhia das Índias Orientais? Em 1773, uma das comissões de inquérito convocou Clive a prestar contas perante à Câmara dos Comuns dos seus métodos e ganhos na Índia. Clive admitiu quase todos os fatos, defendeu-os como permitidos em vista dos costumes locais e necessidades da situação, acrescentando que, quando os membros viessem julgar sua honra, não se esquecessem das suas próprias. A Câmara votou por 155 contra 95 que ele havia recebido 234 mil libras durante sua primeira administração de Bengala, mas que, ao mesmo tempo ele havia prestado grandes e louváveis serviços a este país. Um anos depois, com 49 anos, Clive matou-se (22 de novembro de 1774).

Em 1773, Lorde North fez passar uma lei reguladora que previa o adiantamento de um empréstimo de 1 400 000 libras à Companhia, a fim de salvá-la (assim como seus acionistas parlamentares) da bancarrota, tornando todo o território administrado pela Companhia na Índia sob a presidência de Bengala, que por sua vez ficaria sob a responsabilidade do governo britânico. Warren Hastings foi nomeado governador de Bengala.

Ele galgou tal posição vindo de origem modesta. Sua mãe morreu ao dar à luz, e o pai partiu para as Índias Ocidentais à procura de aventura, lá morrendo. Foi mandado por um tio para Westminster Scholl, mas em 1749 esse tio morreu e Warren, com dezessete anos, embarcou para a Índia, em busca de boa sorte. Alistou-se como voluntário sob o comando de Clive, participou da recaptura da Calcutá, demonstrou diligência e eficiência administrativas, sendo designado para o conselho administrativo dos negócios da companhia em Bengala. Em 1764, voltou à Inglaterra. Quatro anos depois, os diretores persuadiram-no a entrar para o Conselho de Madrasta. No caminho, encontrou-se com o Barão Imhof e sua mulher, que se tornou amante de Hastings e ais tarde sua esposa. Saiu-se bem em Madrasta, e em 1774, principiou uma turbulenta administração como governador de Bengala.

    Trabalhava com afinco, contudo seus métodos eram ditatoriais, e algumas de suas medidas forneceram material para os ataques que recebeu de Sir Philip Francis, no Conselho de Bengala, a mais tarde de Burke, no Parlamento. Quando as tribos maratha restabeleceram o Xá Alam no trono mogol, em Delhi, e ganharam dele aqueles distritos de Kora e Allahabad que Clive lhe avia atribuído, Hastings os vendeu ao nababo de Oudth por cinquenta lacas de rupias, designando tropas da Companhia para auxiliar os nababos a recuperarem a região. Permitiu que os nababos se valessem das tropas da Companhia para a invasão e a tomada do território de Rohilkhand, cujo chefe (segundos os nababos) lhes devia dinheiro. A Companhia recebeu grandes somas por esses soldados. A ação de Hastings violava nitidamente as ordens que recebera dos diretores. Contudo, esses diretores avaliavam o valor de um governador pelo dinheiro que ele mandava para a Inglaterra.

    Um funcionário indiano, Nuncomar, acuso Hastings de aceitar suborno. Francis e outros conselheiros deram crédito à acusação, alegando não existir nenhuma espécie de peculato que o ilustre governador julgasse razoável abster-se. Nuncomar foi preso sob a acusação de calúnia, sendo condenado à morte (1775). Suspeitou-se que Hastings houvesse influenciado o juiz do tribunal, Sir Elijah Impey (anteriormente seu colega em Winchester) a decretar uma pena excepcionalmente severa. Em 1780 Hastings promoveu Impey a um outro cargo com vencimentos de 6500 libras anuais. Desentendimentos mútuos entre Hastings e Francis terminaram em duelo no qual este último saiu seriamente ferido.

    O marajá de Mysore, Haidar Ali, achou que as desavenças entre Hastings e seu conselho ofereciam uma oportunidade para expulsar a Companhia da Índia. Apoiado pelos franceses, atacou as fortificações da Companhia, obtendo algumas alarmantes vitórias (1780). Hastings mandou torpas e dinheiro de Bengala para enfrenta-lo. Haidar Ali morreu (1782), mas seu filho, Tipu Sahib, continuou a guerra até sua derrota final em 1792. Talvez fosse para financiar essas campanhas que Hastings recorreu aos esquemas de levantar dinheiro que levaram ao seu impedimento. 

    Exigiu de Chait Singh, rajá de Benares, um subsídio adicional à renda que esse distrito pagava anualmente à companhia. O rajá alegou não ter disponibilidades para anuir. Hastings conduziu um pequeno contingente para Benares (1781), depôs Chait Singh e extorquiu o dobro da renda do sucessor de Chait – O nababo de Oudh, negligente em seus pagamentos à Companhia, explicou que podia fazê-lo se ela o auxiliasse a obrigar sua mãe e sua avó, as begumes (princesas) de Oudh, a liberar-lhe uma parte dos dois milhões de libras que lhes foram deixadas pelo pais do nababo. Sua mãe já lhe havia concedido uma vultuosa soma mediante a promessa de que não pediria mais. A Companhia sob o protesto de Hastings, fez idêntica promessa. Hastings aconselhou o nababo a ignorar a promessa. Enviou tropas da companhia a Fyzabad. Por meio de tortura e quase inanição, forçaram os eunucos, criados das princesas, a entregar os tesouros (1781), com os quais o nababo pagou suas dívidas à Companhia.

    Nesse meio tempo, Sir Philip Francis, tendo-se recuperado de seus ferimentos, voltou à Inglaterra (1781) e expôs aos diretores e a seus amigos do Parlamento o que ele considerava os crimes de Hastings. Em 1782, a Câmara dos Comuns censurou Hastings e outros funcionários da Companhia de terem, em vários exemplos, agido de forma repugnante à honra e à política da nação, ordenando aos diretores para fazê-los voltar. Os diretores fizeram expedir tal ordem, porém a Assembleia dos Proprietários revogou-a, provavelmente porque a revolta de Mysore continuava. 

    Em novembro de 1783, Charles James Fox, na qualidade de secretário dos negócios exteriores no ministério de coalizão, apresentou ao Parlamento um Projeto de Reforma da Índia que colocaria a Companhia das Índias Orientais sob o controle de delegados nomeados pelo ministério. Os críticos queixaram-se que esse projeto de lei iria dar aos whigs Fox-Burke um manancial de proteção. O referido projeto passou nos Comuns, mas o rei mandou dizer aos lordes que consideraria uma afronta pessoal a votação de tal medida, fosse lá por quem fosse. Votaram contra, 95 a 76. Alegando que o ministério de coalizão perdera a confiança do Parlamento, o rei dissolveu-o (18 de dezembro de 1783), ordenando a seus agentes que difundissem seus reais desejos e dádivas entre o eleitorado para garantir a volta de uma maioria conservadora. O Parlamento que se reuniu em 18 de maio era esmagadoramente pró Pitt e o rei. 

 William Pitt II o primeiro Primeiro-ministro. Pitt era mestre em administração política e capacidade de direção. Sua meticulosa devoção a suas tarefas, minucioso conhecimento dos negócios, o hábito de reflexão cuidadosa e julgamento cauteloso davam-lhe uma superioridade reconhecida por quase todos seus colegas de ministério. Então, pela primeira vez desde Robert Walpole (em relação a quem seu filho, em 1773, empregara o termo) a Inglaterra tinha um primeiro ministropois nenhuma ação importante foi tomada pelos colegas de Pitt sem o seu consentimento. Estabeleceu Pitt um verdadeiro governo de gabinete – a deliberação conjunta e união de responsabilidades dos principais ministros sob uma única liderança. Embora Pitt houvesse assumido o posto como devendo acatar a autoridade real, seu árduo trabalho e ampla informação foram pouco a pouco colocando-o numa posição em que ele mais guiava do que seguia o rei. Depois do segundo acesso de Jorge III (1788), foi Pitt quem governou a Inglaterra.

    Seu especial relacionamento com os negócios e as finanças possibilitaram-no restaurar um tesouro perigosamente sobrecarregado por duas grandes guerras em uma geração. Pitt havia lido Adam Smith, ouvia comerciantes e industriais, reduziu os prazos das importações, negociou um tratado de redução das tarifas com a França (1786) e entusiasmou os industriais ao declarar que as manufaturas deviam, em geral, ser isentadas de impostosRessarciu-se dessa medida ao tributar os artigos de consumo: fitas, fases, luvas, chapéus, velas, camas, sal vinho, tijolos, telhas, papel, janelas. Muitas casas taparam algumas janelas para reduzir o imposto. Em 1788, foi procedida a estimativa do orçamento, verificando-se que a Inglaterra escapara à bancarrota governamental que estava conduzindo a França à Revolução

    Antes da eleição, Pitt havia apresentado o seu Primeiro Projeto de Lei da Índia, que foi derrotado. Tornou, então a apresentar um segundo projeto: uma Junta Controladora, nomeada pelo rei, administraria as relações políticas da Companhia das Índias Orientais, enquanto que as relações comerciais e a clientela ficaram a cargo da Companhia, sujeitas ao veto real. Este projeto de lei foi aprovado (9 de agosto de 1784) regendo os negócios anglo-indianos até 1858.

    Fox e Burke consideraram esse arranjo uma vergonhosa capitulação a uma companhia notória pela corrupção e crimes. Burke tinha especial razão para aborrecimento. Seu patrono, Lorde Verney, seu irmão Richard Burke e seu parente William Burke haviam investido na Companhia e sofrido grandes perdas com a flutuação das ações. Quando William Burke foi para a Índia, Edmund o recomendou a Sir Philip Francis como pessoa de quem ele muito gostava. William ocupou o cargo de pagador, demonstrando ser tão corrupto quanto qualquer umDe volta à Inglaterra, Francis deu a Burke e a Fox sua versão da administração de Hastings. Ele era a fonte do extraordinário conhecimento que Burke tinha dos negócios da Índia. Os ataques a Hastings pelos liberais Whigs talvez fossem motivados, em parte, pelo desejo de desacreditar e derrubar o ministério de Pitt.

    Em janeiro de 1785, Hastings demitiu-se, voltando à Inglaterra. Esperava que seus longos anos de administração, a recuperação da Companhia para uma situação de solvência, assim como o salvamento das forças inglesas em Madrasta e Bombaim seriam recompensados com uma pensão, se não com um título de nobreza. Na primavera de 1786, Burke solicitou à Câmara dos Comuns os registros da direção de Hastings na Índia. Alguns foram recusados, outros lhe foram entregues pelos ministros. Em abril, ele apresentou à Câmara uma conta de despesas contra o ex-governador de Bengala. Hastings leu perante a Câmara uma resposta minuciosa. Em junho, Burke fez acusações relacionadas com a guerra de Rohilkhand, pedindo o impedimento de Hastings. A Câmara recusou-se a processar. Em 13 de junho, Fox contou a história de Chait Singh, pedindo o impedimento. Para grande surpresa do ministério, Pitt votou com Fox e Burke. Muitos do seu partido seguiram o exemplo, o que pode ter sido para dissociar o ministério da sorte de Hastings. A moção para o impedimento passou por 119 a 79.

    A prorrogação do Parlamento e a urgência de outros assuntos interromperam o drama, porém ele prosseguiu tumultuosamente em 7 de fevereiro de 1787, quando Sheridan fez um discurso que Fox, Burke e Pitt consideraram o melhor jamais proferido na Câmara dos Comuns. (Ofereceram a Sheridan mil libras por uma correta cópia do referido discurso. Ele nunca teve tempo de fazê-lo, e somente o conhecemos através de sínteses moderadas). Com toda a arte de um homem nascido para o teatro e o fervor de um espírito romântico, Sheridan recontou a espoliação das begumes de Oudh. Após falar por mais de cinco horas, pediu que Hastings fosse destituído. Mais uma vez Pitt votou a favor da acusação. A moção foi votada por 175 a 68. Em 8 de fevereiro, a Câmara nomeou uma comissão de vinte – com Burke, Fox e Sheridan encabeçando – para preparar os artigos de impedimento. Estes foram apresentados e, em 9 de maio, a Câmara ordenou que “Mr. Burke, em nome da Câmara dos Comuns (...) fosse à Câmara dos Lordes a fim de proceder ao impedimento de Warren Hastings, Esquire (...) por grande crise e contravenções”. Hastings foi preso, e levado perante os pares do reino, porém solto, mediante fiança. 

    Depois de muito tempo, a 13 de fevereiro de 1788, o julgamento principiou em Westminster Hall. Os amantes da literatura lembrar-se-ão da brilhante descrição daquela assembleia histórica. Os Lordes sentados, ostentando seus arminhos e outros como a alta corte da realeza. Perante eles Hastings, pálido e doente, com 53 anos, com 1,70m de altura e pesando 55 kg. Os juízes com suas perucas que lhes desciam até as orelhas. A família do rei. Os membros da Câmara dos Comuns. As galerias apinhadas de embaixadores, princesas e duquesas, Mrs Siddons, na sua majestosa beleza. Sir Joshua Reynolds entre tantos nobres que ele havia retratado. EUA, em um dos lados, a comissão então denominada os administradores, pronta para apresentar o caso do impedimento. Funcionários procederam à leitura da acusação e da resposta de Hastings. Durante quatro dias, no discurso mais vibrante de sua carreira Burke lançou sobre o acusado um número avassalador de acusações. Depois, em 15 de fevereiro, fez aquela histórica assembleia vibrar com a apaixonada exigência:

Impugno Warren Hastings, Esquire, por grandes crimes e contravenções.
Impugno-o em nome dos Comuns da Grã-Bretanha, (...) cuja confiança do Parlamento ele traiu (...).
Impugno-o em nome do povo da Índia, cujas leis, direitos e liberdade ele subverteu, cujas propriedades destruiu, cujo país tornou ermo e desolado.
Impugno-o em nome, e pela virtude, das eternas leis de justiça que violou.
Impugno-o em nome da própria natureza humana, que ele cruelmente ultrajou, injuriou e oprimiu em ambos os sexos, em todas as idades, em toda categoria elevada, situação e condições de vida.

    Com centenas de interrupções o julgamento prosseguiu, à medida que Burke, Fox, Sheridan e outros, contavam a história da administração de Hastings. Quando se ficou sabendo que pela manhã de 3 de junho Sheridan apresentaria prova relativa às begumes de Oudh, as ruas que davam para Westminster Hall ficaram repletas a partir de oito horas da manhã, com muitas pessoas, algumas de alta categoria, ansiosas para conseguir entrar. Os que haviam obtido cartões de ingresso venderam-nos por cinquenta guinéus cada ($1.500?). Sheridan compreendeu que esperavam que ele fizesse uma dramática representação. E ele a fez. Falou nas quatro audiências. Na do último dia (3 de junho de 1788), depois de ocupar a tribuna cinco horas consecutivas, caiu exausto nos braços de Burke, que o abraçou. Giboon, que estava nas galerias, descreveu Sheridan como um grande atorobservando como estava bem-disposto quando aquele historiador o visitou na manhã seguinte.

    Aquele discurso foi o clímax do referido julgamento. Cada um dos pontos da acusação necessitava ser investigado. Os lordes esperaram com paciência, e pode ser que tenham demorado a fim de deixar os efeitos da eloquência se dissiparem, e o interesse no caso desviar-se para outros acontecimentos. Estes vieram. Em outubro de 1788, o rei Jorge ficou louco e seriamente abatido pela tensão do julgamento e a má conduta do filho. Jorge Augusto Frederico, Príncipe de Gales, era gordo, de bom gênio, generoso, gastador e amoroso. Teve sucessivamente, várias amantes, acumulando dívidas pagas pelo pais ou pela nação. Em 1785 casou-se secretamente com Mrs. Maria Anne Fitzherbert, uma devota católica romana, já viúva duas vezes e seis anos mais velha do que o príncipe. Os wihigs, conduzidos por Fox, propuseram instituir uma regência subordinada ao príncipe. Este não dormiu duas noites à espera que o rei fosse declarado incapaz. Jorge III tornou as coisas ainda mais complicadas ao ter momentos de lucidez, nos quais falava de Garrick e Johnson, cantava trechos de Handel e tocava flauta. Em março de 1789, restabeleceu-se, desfez-se da camisa de força e continuou a reinar normalmente. 

    A Revolução Francesa proporcionou outro desvio do julgamento. Burke abandonou a caça de Hastings e correu ao auxílio de Maria Antonieta. A imoderação de seus discursos pôs fim aos restos de sua popularidade. Queixavam-se que os membros do Parlamento escapuliam quando ele principiava a falar. A maioria da imprensa lhe era hostil. Ele alegou que vinte mil libras haviam sido gastas comprando os jornalistas para ataca-lo e defender Hastings. E não há dúvida que grande parte da fortuna de Hastings foi gasta assim. Não deve ter sido surpresa para Burke quando finalmente, após oito anos do impedimento, a Câmara dos Lordes absolveu Hastings (1795). O sentimento geral era de que o veredicto fora justo. O acusado tinha sido culpado em muitos pontos, mas havia salvo a Índia para a Inglaterra, sendo punido por um julgamento que lhe quebrara a saúde e as esperanças, deixando-o com a reputação maculada e a fortuna arruinada. 

    Hastings sobreviveu a todos os seus acusadores. A Companhia das Índias Orientais salvou-o da insolvência, fazendo-lhe uma doação de noventa mil libras. Hastings readquiriu a propriedade ancestral de sua família em Daylesford, reformou-a e ali viveu num luxo oriental. Em 1813, com 81 anos, foi solicitado a testemunhar sobre negócios na Índia perante a Câmara dos Comuns. Foi recebido naquele recinto com aclamações e reverência, seus serviços rememorados, os pecados levados pelo tempo. Quatro anos depois faleceu, e de sua tumultuada geração apenas um ficou – o rei cego e imbecil. 

terça-feira, 13 de novembro de 2018

O Conservadorismo Anglo-Saxão 8 - O Parlamento versus Povo


Will & Ariel Durant, História da Civilização
Lemos no Journal de Gibbon, com data de 23 de setembro de 1762:

O Coronel Wilkes jantou conosco (...) Poucas vezes defronto-me com melhor companhia. Possui um espírito incansável, argúcia infinita e humor, assim como muita cultura. Contudo, é um completo libertino tanto nos princípios como na prática. Seu caráter é infame, sua vida deformada por todos os vícios, e sua conversação cheia de blasfêmias e obscenidades. Glorifica-se com esta moral – porque a vergonha é uma fraqueza há muito por ele superada. Contou-nos que nesse tempo de dissensões públicas, estava resolvido a tentar sua sorte.

 Este era o ponto de vista de um conservador que votou com o governo nos oito anos como membro da Câmara dos Comuns, e que não podia facilmente simpatizar com um confesso inimigo ativo do Parlamento e do rei. Entretanto, Wilkes teria admitido a maior parte da referida acusação. Tinha-se descartado da ética, assim como da teologia do cristianismo, divertindo-se em atirar seu hedonismo no rosto dos M.P., os quais partilhavam sua moral mas alarmavam-se com sua franqueza.



John Wilkes, 17 de outubro de 1725 - 26 de dezembro de 1797- foi um radical, jornalista e político inglês. Wilkes nasceu em 1725, em Londres, no próspero destilador Israel Wilkes Jr. e era irmão da empresária Mary Hayley. Ele foi eleito pela primeira vez membro do Parlamento em 1757. Na disputa eleitoral Middlesex, ele lutou pelo direito de seus eleitores, em vez da Câmara dos Comuns, para determinar seus representantes. Em 1768, protestos furiosos de seus partidários foram reprimidos no Massacre de St George's Fields. Em 1771, ele foi fundamental para obrigar o governo a conceder o direito de os impressores publicarem relatos integrais dos debates parlamentares. Em 1776, ele apresentou o primeiro projeto de reforma no Parlamento britânico. Durante a Guerra da Independência Americana, ele foi um defensor dos rebeldes americanos, aumentando ainda mais sua popularidade com os americanos Whigs. Em 1780, no entanto, ele comandou as forças da milícia que favoreceram os distúrbios de Gordon, prejudicando sua popularidade com muitos radicais. Isso marcou um ponto de virada, levando a políticas conservadoras que causaram insatisfação entre os proprietários de terra de renda baixa a média, progressistas e radicais. Isso foi fundamental para a morte de seu assento parlamentar no Middlesex na eleição geral de 1790. Aos 65 anos, Wilkes se aposentou da política e participou da revolução social após a Revolução Francesa, como a Emancipação Católica na década de 1790. Durante sua vida, ele ganhou uma reputação como libertino.

John Wilkes era filho de um destilador de cerveja, em clerkenwell, ao norte de Londres. Recebeu boa educação em Oxford e Leiden, o suficiente para surpreender Johnson por seu conhecimento dos clássicos e maneiras de um cavalheiro. Com vinte anos casou-se com uma senhora com o dobro de minha idade, mas possuidora de grande fortuna. Era uma Dissidente, dada à religiosidade solene. Ele entregou-se à bebida e às amantes. Por volta de 1757, uniu-se a Sir Francis Dashwood, Bubb Dodington, George Selwyn, o poeta Churchill e o quarto conde de Sandwich num Clube Fogo do Inferno que se reunia na velha Abadia Cisterciense de Medmenhan, às margens do Tâmisa, nas proximidades de Marlowe. Lá, como os “Monges Doidos de Medmenham”, caricaturavam os rituais da Igreja Católica Romana celebrando uma Missa Negra  a Satanás, entregando-se às suas inclinações licenciosas.



O Clube do Inferno (em inglês: Hellfire Club - "Clube do Fogo do Inferno") eram vários clubes privados frequentados pela elite na Grã-Bretanha e da Irlanda no século XVIII. Foi em sua época mais ilustre presidido por Sir Francis Dashwood. Presume-se que suas reuniões constituíam-se de pródigas bebedeiras e orgias sexuais e, segundo crenças populares com menos fundamento, cultos satânicos e rituais de magia negra. Os encontros do Clube do Inferno eram realizados na Abadia de Medmenham, à margem do rio Tâmisa. 
Através da influência de seus companheiros, e com a despesa de sete mil libras, foi eleito M.P. por Aylesbury (1757). No princípio, ligou-se ao Pitt mais velho e, depois de 1760, aos inimigos de Bute. Como este subsidiava o jornal de Smollet, The Briton, Wilkes, auxiliado por Churchill, principiou, em junho de 1762, um semanário concorrente, North Briton, o qual conquistou ampla aceitação por parte dos leitores, em virtude da verve e argúcia de estilo, assim como da virulência dos ataques contra o ministério. Em um dos números, negou com certa minuciosidade – isto é, propalou – o rumor de que Bute fizera a mãe do rei sua amante. No número 45 (23 de abril de 1763) investiu contra Bute acusando-o de ter violado o acordo da Inglaterra com a Prússia, ao concluir uma paz em separado com a França e fingir, em o discurso do trono, apresentado pelo ministro no nome do rei, que o mencionado tratado tinha a sanção de Frederico o Grande.


Esta semana presenteou o público com o mais desenfreado exemplo de desfaçatez ministerial jamais imposta (...) à humanidade. O discurso do ministério de terça-feira passada não tem paralelo nos anais deste país. Fico em dúvida se a imposição é maior no soberano ou na nação. Todos aqueles que amam este país devem lamentar que um príncipe de tantas e tão amáveis qualidades (...) possa ter sio levado a sancionar com o seu nome sagrado as medidas mais odiosas e as mais injustificáveis declarações públicas (...) Tenho certeza de que todos os estrangeiros, especialmente o rei da Prússia, considerarão o ministro com desprezo e abominação. Fez ele o nosso soberano declarar: “Minhas expectativas foram correspondidas plenamente pelos felizes resultados que os vários aliados da minha coroa obtiveram no Tratado Definitivo. As potências em guerra com o meu estimável irmão, o rei da Prússia, foram induzidos a concordar com os termos de conciliação que aquele grande príncipe aprovou”. A infame falsidade de toda essa frase está clara para todo o mundo, pois sabe-se que o rei da Prússia (...) foi vilmente abandonado pelo escocês, primeiro-ministro da Inglaterra (...) Quanto à “inteira aprovação” do Parlamento, tão levianamente gabada, o mundo sabe de que modo ela foi obtida. A enorme dívida na Lista Civil (...) demonstra muito bem as transações do inverno.

Embora Wilkes tenha interpretado o discurso do rei como sendo realmente de Bute, Jorge III tomou o artigo como uma afronta pessoal, ordenando que os lordes Halifax e Egremont, então secretários de Estado, prendessem todos os implicados na publicação do N° 45 de The North Briton. Lavraram ordem geral de prisão – isto é, não nomeando as pessoas a serem apreendidas. Naqueles termos vagos, 49 pessoas foram presas, inclusive Wilkes (30 de abril de 1763), apensar de sua reivindicação de imunidade como membro do Parlamento. Williams, o tipógrafo, foi posto no pelourinho, mas a turba, aplaudindo-o como mártir, levantou a importância de duzentas libras para sua libertação. Wilkes dirigiu-se à Corte Comum de Apelação para um mandado de habeas corpus, obteve-o, expôs seu caso, e conseguiu do presidente do Tribunal de Justiça, Charles Pratt (amigo de Pitt), uma ordem de soltura sob alegação de que sua prisão violava as imunidades parlamentares. Wilkes moveu ação contra Halifax e outros por prisão ilegal e danos pessoais, obtendo cinco mil libras de indenização. A impugnação por Pratt das ordens gerais de prisão culminou num abuso quase tão odioso para os ingleses quanto as letters de cachet para os franceses.

As Lettres de cachet de 1703 (reinado de Luís XIV), introduzidas pela expressão ‘De par le roy ("Em nome do rei") eram cartas assinadas pelo rei da França, rubricadas por um de seus ministros, e fechadas com o selo real, ou cachet. Elas continham ordens diretamente do rei, muitas vezes para impor ações arbitrárias e julgamentos que não podiam ser apelados.

Tentando a sorte, Wilkes colaborou com Thomas Potter (filho do Arcebispo de Canterbury) na composição de Essay on Woman (Ensaio sobre a mulher) como uma paródia poética do Essay on Man, de Pope. Tratava-se de uma mistura de obscenidades e blasfêmia, recheada de notas eruditas, no mesmo tom, atribuídas ao Bispo William Warburton, que havia acrescentado notas ao poema de Pope. Esta pequena peça foi impressa pelas máquinas de Wilkes, em sua própria casa. Não foi publicada, porém treze foram retiradas para alguns amigos. Os ministros do rei obtiveram as laudas relativas as provas, convencendo o Conde de Sandwich a lê-las na Câmara dos Lordes. O conde assim fez (15 de novembro), para grande hilaridade dos pares, que sabiam de sua reputação de libertino. Walpole nos conta que eles “não se puderam conter” enquanto Sandwich continuava, porém concordaram ser o poema um libelo escandaloso, obsceno e ímpio, e pediram ao rei para condenar Wilkes por blasfêmia Quando Sandwich disse a Wilkes que ele morreria ou nas galés ou de doença venérea, este respondeu: Isto depende, milorde, se eu abraçar seus princípios ou suas amantes.
Naquele mesmo dia, 15 de novembro, Wilkes levantou-se na Câmara dos Comuns para dar entrada em uma queixa de quebra das imunidades em virtude da ordem de prisão, o que foi rejeitado, resolvendo o Parlamento que o carrasco queimasse publicamente o N° 45 do The North Briton. No dia 17, Samuel Martin, que havia sido injuriado naquele número do jornal, desafiou Wilkes para um duelo. Encontraram-se em Hyde Park. Wilkes ficou seriamente ferido, guardando o leito por um mês. O povo de Londres condenou Martin como um assassino contratado. Amotinaram-se quando o carrasco tentou queimar o N° 45. Wilkes e liberdade! E Número 45 tornaram-se os lemas de uma rebelião popular contra o rei e o Parlamento. Depois, um exaltado escocês tentou mata-lo e Wilkes partiu para a França (26 de dezembro). Em 19 de janeiro de 1764, foi formalmente expulso do Parlamento. Em 21 de fevereiro, foi declarado culpado, no Tribunal de King’s Bench, por ter reimpresso o N° 45 e pela impressão do Essay on Woman. Convocado a comparecer para ouvir a sentença, não obedeceu e, em 1° de novembro, foi declarado proscrito.

Por um período de dez anos, Wilkes vagueou pela França e pela Itália, receando ser preso para toda vida se voltasse à Inglaterra. Em Roma, esteve muitas vezes com Winclelmann; em Nápoles, encontrou Boswell, que achou-o uma companhia interessante. “Seus chistes vivos e fortes sobre questões morais deram ao meu espírito uma agitação nada desagradável”. No caminho de volta a Paris, Wilkes visitou Voltaire em Ferney encantando o homem mais espirituoso da Europa com a sua graça.

Com a volta dos liberais ao poder sob Rockingham e Grafton, Wilkes esperou ser perdoado. Recebeu garantia secreta que não seria molestado se permanecesse quieto. Voltou à Inglaterra (1758), anunciando, de Londres, sua candidatura para o Parlamento. Perdendo, procurou eleição por Middleses, recebendo uma substancial maioria após campanha tumultuosa. Aquela província, grandemente urbanizada (agora inclui o noroeste de Londres), era conhecida por sua tendência radical e hostilidade pelo capitalismo nascente. Em 20 de abril, Wilkes apresentou-se ao tribunal na esperança de ver anulada sua sentença de proscrição. Conseguiu. Não obstante, recebeu intimação para pagar uma multa de mil libras e ordem de prisão por 4 meses. Uma turba furiosa socorreu-o dos agentes da polícia, levando-o em triunfo pelas ruas de Londres. Escapando de seus admiradores, entregou-se à cadeia em Sr. George’s Fields. Uma multidão ali reuniu-se em 10 de maio, propondo livrá-lo novamente. Soldados atiraram nos amotinados. Cinco foram mortos, quinze ficaram feridos. 

Em 4 de fevereiro de 1769, a Câmara dos Comuns tornou a expulsá-lo. Middlesex mais uma vez elegeu-o (16 de fevereiro). Foi novamente expelido. Middlesex voltou a elegê-lo (13 de abril), dessa vez por uma votação de 1143 contra 296 de Henry Luttrell. O Parlamento deu assento a Luttrell, sob a alegação de que, tendo sido expulso do Parlamento, Wilkes desqualificara-se legalmente durante a sua vigência. Luttrell foi atacado ao sair dos Comuns, não ousando andar na rua. Dezessete condados e muitos burgos enviaram representações ao trono, queixando-se de que os direitos dos proprietários de terras de escolher seus representantes na Câmara dos Comuns haviam sido flagrantemente violados. O rei, que tinha vigorosamente apoiado as expulsões, ignorava as petições, de modo que um dos membros dos Comuns, Coronel Isaac Barré, disse no Parlamento que o descaso das petições poderia ensinar ao povo a pensar em assassinato.

John Horne Tooke, jovem padre que havia rendido sua fé ao charme de Voltaire, tirou o hábito, declarando que, depois das exclusões de Wilkes, ia tingir seu casaco preto (eclesiástico) de vermelho. Tooke chefiou a organização da Sociedade dos Defensores da Carta dos Direitos (1769), cuja finalidade imediata era libertar Wilkes da prisão, pagar suas dívidas e restabelecê-lo no Parlamento. Nas reuniões reclamavam a dissolução do atual Parlamento como irreparavelmente corrupto e igualmente insensível à vontade geral. Reivindicavam parlamentos anuais, eleitos pelo sufrágio universal de elementos adultos do sexo masculino, e a responsabilidade dos ministérios em relação ao Parlamento em suas politicas e despesas. Qualquer Candidato ao Parlamento deveria prestar juramento de não aceitar suborno de forma alguma, tampouco qualquer posto ou pensão, ou quaisquer emolumentos da Coroa; que todos os membros deviam defender os pontos de vista de seus constituintes mesmo quando contrários aos seus. Os ressentimentos da Irlanda deveriam ser desagravados e as colônias americanas teriam, por elas mesmas, o direito de tributar seu povo.


Em Julho de 1769, William Beckford, na qualidade de prefeito de Londres, e as fardas ou funcionários uniformizados da cidade, encaminharam ao rei uma comunicação censurando a conduta de seus ministros, que subvertiam a constituição, de conformidade com a qual o trono da Inglaterra havia sido dado à casa de Hanôver. Em 14 de março de 1770, remeteram ao rei o protesto que empregava a linguagem da revolução: Sob influência maligna e secreta que, através de sucessivas administrações, derrotou todas as boas intenções, sugerindo todas as más, a maioria da Câmara dos Comuns privou o vosso povo dos seus mais caros direitos. Agiram de maneira mais ruinosa em suas consequências do que o lançamento de impostos por Carlos I para a construção de navios, ou o poder de pensionar assumido por Jaime II. Apelavam para o rei no sentido de restabelecer o governo constitucional (...) retirar para sempre os maus ministros de vossos conselhos e dissolver o atual Parlamento. O enfurecido monarca, com a mão na espada, exclamou: Mais depressa eu recorrerei a isto do que ceder à dissolução. Em 1770, Londres, ao invés de Paris, parecia estar perto de uma revolução.


Naquele turbilhão escaldante da política, “Júnio” escreveu as cartas mais incendiárias da história da Inglaterra. Guardou sua identidade tão secreta, mesmo de seus editores. Que até nossos dias ninguém sabe quem ele era, embora muitos imaginem tratar-se de Sir Philip Francis, a quem encontraremos como o implacável inimigo de Warren Hastings.
Junius foi o pseudônimo de um escritor que contribuiu com uma série de cartas para o Public Advertiser, de 21 de janeiro de 1769 à 21 de janeiro de 1772. A assinatura já havia sido usada, aparentemente por ele, numa carta de 21 de novembro de 1768. Estas e numerosas outras cartas pessoais não foram incluídas em sua coletânea Letters of Junius, publicada em 1772.

As Letters of Junius possuem um objetivo definido:

Informar o público sobre seus direitos e liberdades históricos e constitucionais, enquanto ingleses; destacar onde e como o governo infringiu estes direitos. Seu principal alvo foi o ministério de Augustus Henry FitzRoy, 3.º Duque de Grafton, um fellow Whig que Junius encarava como particularmente corrupto. A administração Grafton foi constituída em outubro de 1768, quando William Pitt, o Velho, foi compelido a retirar-se do governo por problemas de saúde, e foi uma reconstituição do gabinete de julho de 1766. Junius lutou pelo retorno de Chatham ao poder, o qual havia se restabelecido e não estava em boas relações com seus sucessores.

A correspondência privada de Junius foi preservada, escrita em sua habitual caligrafia disfarçada. Ele correspondia-se com Chatham, George Grenville, Wilkes (todos oponentes do Duque de Grafton), e também com Henry Sampson Woodfall, impressor e sócio do Public Advertiser.

As cartas são de interesse por três motivos:

1. seu significado político;
2.  estilo; e
2. o mistério que há muito cerca sua autoria.
A matéria das cartas é considerada injuriosa por alguns, embora uma análise mais acurada de seus escritos revele um homem de princípios séculos à frente do seu tempo, expondo a corrupção mais desavergonhada pelo único meio disponível (anonimato) num país ainda em luta com a ideia de liberdade de expressão.

O autor já havia assinado em algumas cartas “Lúcio”, em outras “Bruto”. Passou então a adotar o nome daquele Lúcio Júnior Bruto, que, segundo Livy, havia deposto um rei (510 a.C.) e fundado a República Romana. O domínio total do inglês nessas cartas indicava que “Júnio” possuía educação, se não as maneiras, de um cavalheiro. Era, provavelmente, um homem de posses, pois não recebia dinheiro com as tais cartas, cuja força e mordacidade aumentavam, com lucro, a circulação do The Public Advertiser, no qual elas apareceram de 21 de novembro de 1768 a 21 de janeiro de 1771.


Em uma dedicatória à Nação Inglesa, que ele colocou como prefixo à coleção completa de Cartas de Júnio (1772), o autor declarava ser a sua finalidade “estabelecer a liberdade nas eleições, e advogar o pleno direito de escolher seus representantes. Como ponto de partida, tomou a exclusão de Wilkes e a prisão, por uma ordem geral, de todos aqueles relacionados com o n° 45 do The North Briton. “A liberdade de imprensa é o apanágio de todos os direitos civis, políticos e religiosos do inglês, e o direito jurídico (...) parte essencial de nossa constituição”. Partindo dessas declarações, o autor passou a recapitular as bases do governo da Grã-Bretanha. “O poder dos reis, lordes e Comuns não é arbitrário. Eles são os depositários, e não os donos do Estado. O domínio pleno está em NÓS. 

"Tenho certeza de que vocês não vão deixar que setecentas pessoas notoriamente corrompidas pela Coroa decidam se sete milhões de seus semelhantes vão ser livres ou escravos”.

Júnio continuou acusando a administração de Grafon (1768-70) de vender postos e de corromper o Parlamento com favores e subornos. Neste ponto o ataque tornou-se direto, chegando ao extremo de sugerir a decisão de vingança por afronta pessoal ou injustiça.

Adiantai-vos, ó virtuoso ministro, e dizei ao mundo no interesse de quem Mr. Hine foi recomendado de maneira tão extraordinária ao beneplácito de Sua Majestade. Qual foi o preço da patente que ele comprou? (...) Pensais que tais enormidades ficarão impunes? Na verdade, tendes interesse em manter a atual Câmara dos Comuns. "Tendo vendido a nação por atacado, certamente eles vos protegerão em detalhe, pois enquanto favorecem vossos crimes, receiam por aqueles que cometeram."

Os ataques continuaram muito depois da exoneração de Grafton, como na carta de 22 de Junho de 1771:

"Não posso, com qualquer aparência de decoro, chamar-vos o mais mesquinho e o mais baixo personagem do reino. Eu protesto, meu senhor, não vos julgo assim. Tereis um perigoso rival nesta espécie de fama (...) enquanto houver um homem vivo que vos julga digno de sua confiança e capaz de ser acreditado."

Isso parecia designar o próprio Jorge III como “a pessoa mais baixa do Reino”. Já na carta XXXV, Júnio propusera-se atacar o rei “com dignidade e firmeza, mas não com respeito”: “Senhor, a infelicidade de nossa vida (...) é que jamais tenhais tido conhecimento da linguagem da verdade até que a ouvistes nas queixas de vosso povo. Entretanto, não é muito tarde para corrigires o erro de vossa educação”. Júnio aconselhava Jorge a demitir seus ministros tories e permitir a Wilkes manter o lugar para o qual fora eleito. “Enquanto o príncipe orgulha-se da segurança do seu direito à coroa, ele deveria lembrar-se de que, tendo esta sido obtida por uma revolução, por uma outra ele pode perde-la”.

Henry Woodfall, que publicou esta carta no Public Advertiser, foi preso sob acusação de libelo sediciosos. Refletindo os sentimentos da classe média, o júri recusou-se a condená-lo, e ele foi solto mediante pagamento de custas. Entretanto, o rei manteve seu ponto de vista, fortalecendo sua posição ao colocar o obsequioso e imutável Lorde North como primeiro ministro. Júnio continuou suas cartas até 1772, e depois abandonou o campo. Devemos notar que em 1772 Sir Philip Francis deixou o Ministério da Guerra (de cujos negócios Júnio demonstrava estar intimamente familiarizado) e partiu para a Índia.

Estas cartas pertencem tanto à história literária quanto à história política da Inglaterra, pois constituem um exemplo vivo do estilo pelo qual muitos estadistas ingleses podiam elevar-se ou rebaixar-se quando exaltados pelas paixões e protegidos pelo anonimato. Eis aqui um inglês de bom quilate misturado com injúria, mas esta mesma injúria é sempre uma obra prima de golpe sútil ou agudo epigrama. Não há aqui nenhuma misericórdia, nem generosidade, tampouco a ideia de que o próprio partido de quem acusa era coparticipante do crime do acusado. Solidarizamo-nos com Sir William Draper, que, em resposta à carta de Júnio, de 21 de janeiro de 1769, escreveu: 
"O reino vê-se no meio de um enxame de ladrões traiçoeiros, de caráter e virtudes particulares de que nenhum homem honesto está salvo, principalmente porque esses assassinos baixos e covardes apunhalam no escuro, sem coragem para assinar seus próprios nomes nas suas produções malévolas e malvadas."

A passagem da imprensa britânica para uma crescente liberdade e influência foi marcada por um outro conflito nesses anos. Por volta de 1768, alguns jornais principiaram a imprimir notícias dos discursos mais importantes proferidos no Parlamento. A maior parte deles era partidária e inexata, alguns eram imaginários, outros insultuosos. Em fevereiro de 1771, o Coronel George Onslow queixou-se na Câmara dos Comuns que um jornal havia a ele se referido como “o pequeno patife”, e “aquele inseto reles e insignificante”. Em 12 de março, a Câmara deu ordem para a prisão dos editores, que resistiram e prenderam seus supostos captores, levando-os perante dois regedores (um dos quais era Wilkes), e o Prefeito Brass Crosby. Este tornou sem efeito a tentativa de apreensão dos editores, alegando que a legislação da cidade proibia a prisão de um habitante de Londres, exceto mediante ordem emitida pelo juiz local. O prefeito recebeu o mandado de prisão, na Torre, por ordem do Parlamento, porém o povo levantou-se em seu favor, atacou a carruagem dos M.P., ameaçou os ministros, vaiou o rei e invadiu a Câmara dos Comuns. O prefeito foi solto e aclamado pela multidão. Os jornais recomeçaram suas notícias sobre os debates parlamentares, e o Parlamento cessou de perseguir os editores. Em 1774, Luke Hansard, com a autorização do Parlamento, principiou a publicar, com rapidez e exatidão, os Anais da Câmara dos Comuns, continuando-os até a sua morte em 1828.

Essa histórica vitória da imprensa inglesa influiu no caráter dos debates parlamentares, contribuindo para fazer da segunda metade do século XVIII a idade de outro da eloquência inglesa. Os oradores tornaram-se mais cautelosos, talvez mais dramáticos, quando sentiam estar sendo ouvidos por todas as Ilhas Britânicas. Um certo progresso em direção à democracia era inevitável então, quando a informação política e a inteligência eram mais amplamente difundidas. A classe dos negócios, a comunidade intelectual e os radicais em ascensão encontraram na imprensa uma voz que se tornou cada vez mais audaciosa e eficaz, até que reprimiu a própria monarquia. Os eleitores podiam finalmente saber se os seus representantes haviam defendido bem a eles e a seus interesses na elaboração e rejeição das leis. A corrupção, embora continuasse, havia diminuído, pois podia ser mais claramente exposta. De modo que a imprensa tornou-se uma terceira força que às vezes podia manter o equilíbrio entre classes nacionais ou partidos nos Parlamento. Os homens com poderes para comprar ou controlar os jornais tornaram-se tão poderosos quanto os ministros.

Como todas as liberdades, esta, que era nova, foi mal-empregada. Tornou-se por vezes o instrumento de fins mais egoístas e partidários, de oposições mais grosseiras e violentas do que quaisquer apresentados no Parlamento. Então, mereceu o nome que lhe deu Chatham – “Libertinagem constitucional”. Por sua vez, tinha de ser constitucionalizada por uma quarta voz, a opinião pública, da qual, contudo, a imprensa era em parte a fonte, muitas vezes corruptora, sendo algumas vezes a voz. Equipados com maiores conhecimentos, homens e mulheres sem títulos de nobreza principiaram a falar de política e métodos de governos. Encontravam-se em reuniões públicas, e seus debates ocasionalmente rivalizavam-se com os do Parlamento na sua influência sobre a história. Então, o dinheiro, tanto quanto o nascimento, podia reivindicar o direito de governar, e por vezes, entre os argumentadores, o povo podia fazer-se ouvir.

Wilkes foi solto da prisão em 17 de abril de 1770. Muitas casas iluminaram-se como para uma festa, e o prefeito exibiu diante de sua residência oficial (Mansion House) um letreiro com a palavra LIBERDADE em letras de um metro de altura. Logo Wilkes foi eleito vereador, depois prefeito. Em 1774, foi novamente para o Parlamento, eleito por Middlesex. Então, os Comuns não ousaram mais recusar-lhe o lugar, o qual ele conservou através de todas as eleições até 1790. Conduziu um pequeno grupo de radicais ao Parlamento, os quais salientaram a urgência de reformas parlamentares e libertação das classes inferiores.

"Desejo que toda pessoa livre neste império seja representada no Parlamento. Os burgos médios e insignificantes, tão enfaticamente rotulados partes decadentes de nossa organização, deviam ser eliminados e as cidades comerciais, ricas e populosas – Birmingham, Manchester, Sheffield, Leeds e outras deviam ter permissão para enviar deputados ao grande conselho da nação. (...) Desejo, senhor, que o Parlamento inglês fale o livre e desapaixonado senso comum da totalidade do povo inglês."

O Parlamento levou 55 anos para aceitar essas reformas.
Wilkes recusou candidatar-se para uma reeleição em 1790, retirando-se à vida privada. Morreu em 1797, com setenta anos, tão pobre quanto quando nasceu, porque fora escrupulosamente honesto em todos os cargos que ocupou. 
Will & Ariel Durant, História da Civilização, Vol. 10, A Era de Rousseau

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