Will & Ariel Durant, História da Civilização
Em 1750, as colônias inglesas da América do Norte contavam com uma população de 1.750.000. Na Inglaterra e em Gales era de 6.140.000. Como o crescimento das colônias apresentava maiores índices do que no país de origem, era apenas uma questão de tempo a rebelião dos descendentes contra o genitor. Montesquieuo havia predito em 1730, chegando ao ponto de especificar que a ruptura seria causada pelas restrições britânicas ao comércio americano. Por volta de 1747, o Marquês d’Argenson previu que as colônias se levantariam contra a Inglaterra, formariam uma república, tornando-se uma das grandes potências. Logo depois que a Inglaterra tomou o Canadá da França, na Guerra dos Sete Anos, Vergennes disse a um viajante inglês: Muito em breve a Inglaterra se arrependerá de ter removido o único obstáculo que poderia manter as colônias amedrontadas. Elas não mais necessitam de sua proteção. A Inglaterra exigirá que as colônias contribuam com suas despesas que elas concorreram para sobrecarrega-la, e elas responderão desligando-se de toda dependência.
A coroa inglesa reivindicava autoridade para vetar as leis promulgadas pelas assembleias coloniais. Nem sempre utilizava esse poder, mas quando a assembleia da Carolina do Sul, “sensível ao perigo social e político decorrente da considerável multiplicidade de negros na colônia”, fez passar uma lei impondo pesada tributação na importação de escravos, esta foi rescindida pela Coroa, porque “o comércio de escravos constituía um dos ramos mais lucrativos das transações inglesas”. Nos assuntos econômicos, o Parlamento arrogava-se o direito de legislar para todo o Império Britânico e, usualmente, suas leis favoreciam a terra natal à custa das colônias.
Sua finalidade era tornar a América uma fonte de artigos que não fossem rapidamente produzidos na Inglaterra, e um mercado para os artigos manufaturados ingleses. Desestimulava o desenvolvimento das indústrias coloniais que iriam competir com as da Inglaterra. Proibiu aos colonos manufaturarem panos, chapéus, artigos de couro, ou produtos de ferro. Assim é que o Conde de Chatham, William Pitt, 1.º, em outros assuntos tão favorável às colônias, declarou que não permitiria que um simples prego fosse fabricado na América sem permissão do Parlamento.
Era vedado às colônias a instalação de fornos de aço ou usinas de laminação.
Muitos obstáculos surgiram aos comerciantes americanos. Só podiam despachar mercadoria em navios britânicos e vender fumo, algodão, sedas, café, açúcar, arroz e muitos outros artigos apenas para os domínios da Grã-Bretanha. Os artigos importados da Europa deviam primeiro ser embarcados na Inglaterra, sendo pagas tarifas portuárias, depois transportados para as colônias em navios ingleses. Como medida de proteção à exportação de lã para as colônias americanas, os comerciantes coloniais eram proibidos de vender suas lãs fora das colônias que as haviam produzido. O Parlamento votou pesado tributo (1733) sobre as importações americanas de açúcar ou melado, excetuando-se às de fontes inglesas. Os colonos, principalmente em Massachusetts, violavam alguns desses regulamentos pelo contrabando e pela venda secreta dos produtos americanos às nações estrangeiras, até para a França durante a Guerra dos Sete Anos. Das setecentas toneladas de chá importadas anualmente pelas colônias americanas, apenas cerca de dez por cento obedeciam ao dispositivo de passar pelos portos ingleses. Grande parte do uísque produzido pelas 63 destilarias de Massachusetts, em 1750, empregava açúcar e melado contrabandeados das Índias Ocidentais Francesas.
A fim de justificar essas restrições, a Grã-Bretanha salientava que outras nações europeias impunham restrições similares a suas colônias, tendo em vista proteger e premiar os próprios povos daquelas colônias; que muitos produtos americanos gozavam de um virtual monopólio dos mercados ingleses através da isenção dos impostos devidos; e que a Inglaterra merecia um retorno econômico pelos gastos de proteção que sua marinha dava aos embarques coloniais e que seus exércitos conferiam aos colonos contra os franceses e índios da América. A expulsão dos poderes franceses do Canadá, e do poder espanhol da Flórida, aliviou os ingleses dos perigos que há muito os preocupavam. A Inglaterra sentiu-se justificada ao pedir à América para auxiliar a pagar enorme dívida – 140 milhões de libras – que a Grã-Bretanha gastara na Guerra dos Sete Anos. Os colonos responderam que haviam fornecido vinte mil homens para aquela guerra, tendo contraído também uma dívida de 2.500.000 libras.
De qualquer modo, a Inglaterra resolveu taxar as colônias. Em março de 1765, Grenville (George Grenville) propôs ao Parlamento que todos os documentos legais das colônias, contas, diplomas, cartas de jogar, títulos, escrituras, hipotecas, apólices de seguros e jornais deveriam receber um carimbo pelo qual seria paga uma taxa ao governo britânico. Patrick Henry, na Virgínia, e Samuel Adams, em Massachusetts, aconselharam a rejeição daquele imposto alegando que, por tradição – Magna Carta, a Grande Rebelião contra Carlos I, a “Carta dos Direitos – os ingleses somente poderiam ser tributados mediante consentimento deles próprios, ou de seus representantes devidamente autorizados. Como, por conseguinte, podiam os colonos ingleses serem taxados por um Parlamento no qual não tinham representação? Os ingleses responderam que dificuldades de viagens e comunicação tornavam a representação americana no Parlamento impraticável. Salientaram que milhões de ingleses em idade adulta haviam, durante séculos, lealmente aceito taxação pelo Parlamento, embora não tivesse votado para elegê-lo. Sentiam o que os americanos deveriam sentir que eram virtualmente representados no Parlamento, porque os seus membros consideravam-se representantes de todo o Império Britânico.
Os colonos não se convenceram. Uma vez que o Parlamento detivera a faculdade de tributar como o sustentáculo do controle exercido sobre o rei, da mesma forma as colônias defendiam seu direito exclusivo de taxar a eles próprios, como única alternativa de financiar a opressão exercida por homens que eles nunca tinham visto e que nunca haviam tocado o solo americano.
Os advogados se furtavam à exigência de empregar documentos com o carimbo e alguns jornais apunham uma caveira no lugar em que deveria figurar o carimbo. Os americanos principiaram a boicotar os produtos britânicos. Comerciantes cancelavam os pedidos dos produtos ingleses, outros recusavam pagamento de suas dívidas à Inglaterra, até que a Lei do Carimbo (Selo) fosse repelida. As donzelas das colônias juravam não aceitar pretendentes que não repelissem a Lei do Carimbo. O ressentimento chegou ao ponto de provocar conflitos em várias cidades. Em Nova York, o governador (nomeado pelo rei) foi simbolicamente enforcado. Em Boston, a casa do governador de província, Thomas Hutchinson, foi queimada. Os distribuidores dos selos foram forçados a se demitir de seus cargos, ante a ameaça de enforcamento. Sensíveis ao boicote, os comerciantes ingleses solicitaram a anulação da lei.
Petições foram enviadas ao governo procedentes de Londres, Liverpool, Bristol e outras cidades, declarando que se a lei não fosse extinta, muitos industriais ficaram falidos, e que milhares de operários já tinham sido demitidos em virtude da falta de encomendas da América. Talvez fosse em reconhecimento a tais apelos que Pitt, após longa enfermidade, fez um retorno dramático ao Parlamento, declarando (14 de janeiro de 1766): “Sou de opinião que este reinado não tem o direito de impor uma tributação às colônias”. Ridicularizou a “ideia de que as colônias são virtualmente representadas nesta Casa”. Ao ser aparteado por George Grenville, quando este implicitamente lhe disse que ele fomentava a rebelião, Pitt respondeu desafiadoramente: Regozijo-me de que a América tenha resistido.
Em 18 de março, Lorde Rockinghamconvenceu o Parlamento a repelir a taxa do selo. A fim de acalmar “os Amigos do Rei”, acrescentou ao repúdio daquela lei uma “lei declaratória”, reafirmando a autoridade do rei, com a aquiescência do Parlamento, para fazer leis que vinculassem as colônias e a autoridade do referido Parlamento para tributar aquelas colônias britânicas. Os americanos aceitaram o repúdio à lei e ignoravam a lei declaratória. Então, a reconciliação parecia possível. Mas, em julho, o ministério Rockingham caiu, e no ministério Grafton, que a este se seguiu, o chanceler do Erário, Charles Townshed, reiterou a tentativa de fazer as colônias pagarem as forças administrativas e militares necessárias para protege-las contra desordens internas ou ataques externos. Em 13 de maio de 1767, propôs que novos tributos incidissem sobre vidro, chumbo, papel e chá importados da América. A receita desses impostos seria utilizada pelo rei para pagar os vencimentos dos governadores e juízes por ele nomeados para a América. Qualquer excedente dessas receitas se destinaria à manutenção das tropas inglesas lá. O Parlamento aprovou. Townshend morreu poucos meses depois.
Os americanos resistiram às novas tarifas como uma tributação camuflada. Haviam mantido as tropas reais e os governadores sob controle, fazendo-os amplamente dependentes, para sua manutenção, dos fundos votados pelas assembleias coloniais. Entregar esse poder das finanças ao rei seria ceder a direção do governo americano à autoridade real. As assembleias se uniam para uma renovação do boicote aos artigos ingleses. A arrecadação dos novos impostos foi violentamente rechaçada.
Lorde North procurou uma solução intermediária, ao cancelar todos os impostos propostos por Townshend, com exceção do direito de três penies por 450g de chá. As colônias relaxaram o boicote, porém resolveram só beber o chá contrabandeado. Quando três navios da Companhia das Índias Orientais tentaram desembarcar 298 caixas de chá em Boston, meia centena de furiosos colonos, disfarçados em índios mohawks, entraram nos navios, subjugaram os tripulantes e despejaram a carga no mar (16 de dezembro de 1773). Distúrbios em outros portos americanos frustraram novas tentativas de desembarcar o chá.
O resto da história pertence em sua maior parte à América, porém a parte desempenhada por estadistas ingleses, oradores, escritores e a opinião pública constitui elemento vital na história da Inglaterra. Da mesma forma que, na América uma grande e ativa minoria insistia na lealdade à mãe pátria e ao seu governo, e também na Inglaterra, enquanto o público em geral apoiava as medidas marciais do ministério de Lorde North, uma minoria, representada no Parlamento por Chatham, Burke, Fox, Horace Walpole, lutava pela paz em termos favoráveis à América. Muitos viam nessa divisão da opinião inglesa a revivescência da oposição entre Realistas e Parlamentaristas, em 1642. A Igreja Anglicana apoiou amplamente a guerra contra as colônias, e da mesma forma os metodistas, que seguiam Wesley. Entretanto, muitos outros Dissidentes lastimavam o conflito, pois lembravam-se de que a maioria dos colonizadores provinha de grupos dissidentes.
O grupo dos Dissidentesingleses tem origem na teologia puritana do século XVII e tem por uma das principais características a retirada da mística da fé cristã, considerando somente os princípios da perspectiva racional. Para eles, ir contra os ditames da razão era desrespeitar a vontade de Deus. Essa extrema confiança na razão os afastou das controvérsias religiosas do protestantismo inglês, e fez que se aproximassem de assuntos mais seculares, como comércio e política. Possuíam forte crença no progresso humano e não temiam a mudança social, eram radicais.
Gibbon concordava com Johnson na condenação das colônias, mas David Hume, às portas da morte, alertou a Grã-Bretanha que a tentativa de coagir a América levaria ao desastre. O interesse dos negócios mudou de direção para apoiar o rei, porque as encomendas relativas à guerra traziam-lhes lucros. A guerra, lastimava Burke, “é realmente um substituto do comércio (...) Grandes encomendas de provisões de toda espécie (...) Levantam os ânimos do mundo mercantil, induzindo-os a considerar a guerra americana não tanto a sua calamidade como sua riqueza”.
Os liberais temiam que a guerra fortaleceria os tories contra os whigs, e o rei contra o Parlamento. Um liberal, o Duque de Richmond, pensou em mudar-se para a França a fim de fugir do despotismo real. Jorge III justificou tais temores. Tomou a si todos os encargos da guerra, até mesmo de seus detalhes militares. Lord North e outros ministros, muitas vezes contra suas opiniões pessoais, cumpriam as ordens do rei. Jorge III sentia que se os americanos vencessem, a Inglaterra teria de enfrentar a revolução nas demais colônias, ficando finalmente restrita à sua ilha. O Conde de Chatham, entretanto, alertou o Parlamento de que a forçosa supressão da América seria a vitória dos princípios de Carlos I e Jaime II. Em 20 de novembro de 1777, quando os exércitos britânicos haviam sofrido muitas derrotas na América, e a França estava enviando subsídios às colônias. Chatham (William Pitt, 1), chegando à Câmara dos Lordes como se estivesse vindo do túmulo, e ouvindo com crescente impaciência o discurso ministerial do trono, levantou-se para proferir um dos maiores discursos dos anais da eloquência britânica. Estão aqui unidos a história e a literatura:
Levanto-me, senhores, para tornar públicos meus sentimentos sobre essa questão gravíssima e séria (...) Não posso concordar com um discurso cego e servil que aprova, esforçando-se para consagrar as monstruosas medidas que nos cumularam de ignomínia e infelicidade – que trouxeram destruição às nossas portas. Estamos vivendo, meus senhores, um tremendo e perigoso momento! Não é tempo para adulações. A doçura da lisonja de nada serve agora... É necessário agora esclarecer o trono na linguagem da verdade (...) Este, meus senhores, o nosso dever, é a própria função desta nobre assembleia, que repousa sobre nossas honrarias nesta Casa, o conselho hereditário da Coroa. E, que é o ministro – onde está o ministro? – que ousou sugerir o contrário ao trono, esta linguagem inconstitucional hoje aqui proferida? A usual linguagem do trono tem sido a de pedir conselhos ao Parlamento (...) Mas neste dia, e nesta conjuntura extrema e difícil, nenhuma confiança foi depositada em nossos conselhos constitucionais, nenhum conselho solicitado da atenção sóbria e esclarecida do Parlamento, porque a Coroa declara, por ela própria, uma determinação inabalável para prosseguir nas medidas que nos foram forçadas e impostas (..) as quais reduziram este Império, outrora florescente, à ruína e ao desprezo. Se há ninguém demasiado pobre para reverenciá-la (...)
Meus senhores, não podeis conquistar a América (...) Podeis aumentar todas as desposas e todos os esforços ainda mais exageradamente, amontoar e acumular todo o auxílio que puderdes comprar ou tomar emprestado, negociar e barganhar com todos os pequenos e insignificante príncipes alemães, que vendem e enviam seus súditos para a carnificina (...) Vossos esforços serão para sempre vãos e impotentes – e assim serão duplamente, em virtude desse auxílio mercenário no qual confiais, porque irritam os espíritos de vossos inimigos ao ponto de um ressentimento incurável. (...) Se eu fosse americano, como sou inglês, jamais descansaria minhas armas... nunca... nunca!
Burkeusou todos os seus recursos de persuasão para dissuadir o Parlamento e os ministros de recorrerem à força contra a América. De 1774 a 1780, foi o representante da cidade de Bristol no Parlamento, cujos comerciantes, a princípio, opunham-se a uma guerra contra a América. Era também, naquele tempo, agente assalariado do estado de Nova York. Não negava ao Parlamento, como fazia Chatham, o direito de tributar as colônias, e não apoiava o apelo dos colonizadores para as teorias abstratas de direito natural. Levou a questão para onde os homens sagazes e práticos pudessem compreendê-lo: havia alguma vantagem de ordem prática em tributar a América? No seu discurso sobre a tributação americana (19 de abril de 1774) condenava não só as leis Townshend, mas o tributo de três penies sobre o chá. Advertiu que se aos impostos fossem acrescentadas restrições industriais e comerciais, já incidentes na América, os colonizadores persistiriam numa revolta que aniquilaria o nascente Império Britânico e embaçaria o prestígio do Parlamento.
Derrotado nesse ponto, reiterou, em 22 de março de 1775, o apelo para a reconciliação. Salientou que o comércio com a América crescera dez vezes entre 1704 e 1772 e perguntou se seria sensato desbaratar, talvez sacrificar, tal comércio com uma guerra. Temia que uma guerra com as colônias deixasse a Inglaterra vulnerável a um ataque inimigo estrangeiro. Isso aconteceu em 1778. Concordava que a representação americana no Parlamento tornara-se impraticável pelo mar. Opposuit natura. Pediu apenas que a Inglaterra não confiasse unicamente na tributação, mas nas concessões voluntárias das assembleias coloniais. Tais concessões bem que poderiam exceder aos lucros da tributação direta depois que os custos da arrecadação compulsória fossem deduzidos.
Uma moção nesse sentido foi rejeitada por 270 contra 78, contudo ele teve o consolo de conquistar para a sua causa a eloquência e habilidade de Charles James Fox. Assim principiou uma amizade cimentada pela Revolução Americana e rompida pela Revolução Francesa. Gibbon considerou o discurso de Fox, em 31 de outubro de 1776, o mais primoroso que já ouvira, e Horace declarou-o “uma de suas (Fox) mais finas e animadas orações”. Walpole colocou-se do lado da conciliação. Deplorou o colapso das qualidades diplomáticas da Grã-Bretanha sob Lorde North, e em 11 de setembro de 1775, escreveu a Horace Mann:
O Parlamento reúne-se a 20 do mês que vem a fim de votar 26 mil marinheiros. Que parágrafo de sangue temos aqui! Com que tormentos deve-se preservar a liberdade na América! Na Inglaterra, o que a pode salvar? Oh, insensata, insensata Inglaterra! Que loucura, jogar fora seus tesouros, devastar seu império da riqueza e sacrificar sua liberdade, para que seu príncipe possa ser o arbitrário senhor de ilimitados desertos na América, e de uma ilha empobrecida, despovoada, e, portando insignificante na Europa.
Não foram os discursos fervorosos de Chatham, Burke e Fox, e sim as vitórias e diplomacias das colôniaa que persuadiram o povo inglês, e em seguida seu governo, a pensar em paz. A capitulação de Burgoyne em Saratoga (17 de outubro de 1777) foi o ponto decisivo.
As Batalhas de Saratoga, chamada também de A Batalha de Saratoga (19 de setembro e 7 de outubro de 1777) foi o confronto que decidiu o destino do exército do General britânico John Burgoyne durante a Guerra Revolucionária Americana e também é reconhecida como o momento em que o conflito começou a virar em favor dos Estados Unidos. As duas grandes batalhas foram travadas com oito dias de diferença no mesmo terreno, a 14 km de Saratoga, Nova Iorque. A campanha de Burgoyne, cujo objetivo era dividir a região da Nova Inglaterra, começou bem mas acabou mudando devido a problemas logísticos depois de uma vitória tática conquistada sobre o Exército Continental sob o comando General americano Horatio Gates em 19 de setembro na Batalha da Fazenda Freeman, mas à um custo bem alto. Suas conquistas foram apagadas quando ele atacou novamente os americanos em 7 de outubro na Batalha de Bemis Heights e os estadunidenses acabaram por capturar boa parte do exército inglês. Burgoyne foi então forçado a se retirar e suas forças acabaram se rendendo a um exército americano numericamente bem superior em Saratoga, o que o levou também a se render, formalmente, em 17 de outubro. A noticia da rendição de Burgoyne acabou por convencer em definitivo o governo da França a se aliar na guerra aos americanos. A participação francesa transformou a guerra em um conflito "global". Essa batalha também atraiu a Espanha para a causa americana. O movimento pela Independência dos Estados Unidos ocorreu na virada da década de 1770 para a 1780 e deflagrou uma guerra cujo fim, em 1783, selou a autonomia das Treze Colônias. A Declaração de Independência foi redigida e assinada em 04 de julho de 1776.
Pela primeira vez, a Inglaterra deu valor à advertência de Chatham: Vocês não podem conquistar a América. Quando a França reconheceu os EUA e aderiu à guerra contra a Inglaterra (6 de fevereiro de 1778), o julgamento dos estadistas franceses confirmou o de Chatham, e aos encargos suportados pela Grã-Bretanha, foram acrescentados os da força das armas da França, assim como a de sua marinha reconstituída. O próprio Lord North desalentou-se, pedindo ao rei licença para demitir-se. O rei, cobrindo-o de dádivas, pediu-lhe que ficasse.
Na opinião de ingleses ilustres, somente um governo tendo à frente o Conde de Chatham podia reconquistar as colônias que se aliaram à França, fazendo-as retornar à Inglaterra. Entretanto, Jorge III não queria saber disso. “Declaro solenemente”, disse a Lorde North, “que nada poderá fazer-me tratar pessoalmente com Lorde Chatham”. O conde foi à Câmara dos Lordes pela última vez em 7 de abril de 1778, amparando-se em muletas e em seu filho William, o rosto lívido com a proximidade da morte, a voz tão fraca que quase não era ouvida. Mais uma vez aconselhou uma conciliação, porém, foi “contra o desmembramento desta antiga e nobilíssima monarquia” por uma concessão de independência da América. O Duque de Richmond respondeu que somente por tal concessão poderia a América desfazer sua aliança com a França. Chatham tentou levantar-se e novamente falar, porém caiu num acesso apoplético. Morreu em 11 de abril de 1778. O Parlamento votou um enterro público, com túmulo e monumento na Abadia de Westminster. No consenso geral era o maior inglês de seu tempo.
Os acontecimentos apressaram-se a completar a catástrofe por ele prevista. Em junho de 1779, a Espanha juntou-se à França para uma guerra contra a Inglaterra. Organizou o assédio a Gibraltar, e enviou sua frota para participar do ataque contra os navios ingleses. Em agosto, uma flotinha conjunta, de sessenta navios franceses e espanhóis, entrou no Canal da Mancha. A Inglaterra preparava-se febrilmente para resistir à invasão. A doença incapacitou a grota inimiga, compelindo-a a se retirar em Brest. Em março de 1780, Rússia, Dinamarca e Suécia uniram-se numa “Declaração de Neutralidade Armada”, destinada a resistir ao hábito da Inglaterra de tomar os navios neutros em busca de artigos dos inimigos. Logo, outros países neutros assinaram esta declaração. Os ingleses continuaram a procurar os navios holandeses, encontrando provas de um acordo secreto entre a cidade de Amsterdam e um negociador americano. A Inglaterra exigiu punição dos funcionários de Amsterdam. O governo holandês recusou. A Inglaterra declarou guerra (dezembro de 1780). Então, quase todos os Estados do Báltico e do Atlântico aliaram-se contra a Inglaterra, que há muito pouco tempo reinara nos mares.
O ânimo do Parlamento refletia a multiplicidade dos reveses. Crescia o ressentimento contra o rei que frustrara o desejo dos seus ministros de terminar a guerra. Em 6 de abril de 1780, John Dunning apresentara à Câmara dos Comuns uma moção declarando que “a influência da Coroa aumentou, está aumentando, e precisa diminuir”. Foi aprovada por 233 votos contra 215. Em 23 de janeiro de 1781, o jovem Pitt tomou assento na Câmara. No segundo discurso proferido, denunciou a guerra com a América como “a mais malfadada, malvada, bárbara, cruel, antinatural, injusta, e diabólica”. Fox, alegremente, aclamou Pitt nas fileiras da oposição, não prevendo que aquele jovem, dentro em breve, seria seu mais forte inimigo.
Em 19 de outubro de 1781, Lorde Cornwallis rendeu-se a Washington, em Yorktown. “Oh, meu Deus, tudo está perdido”!, exclamou Lorde North, porém o rei insistiu para a guerra continuar. Em fevereiro e março de 1782, chegou a notícia de que Minorca havia sido tomada pelos espanhóis, e muitas ilhas das Índias Ocidentais pelos franceses. Comícios púbicos por toda a Inglaterra clamavam pela paz. A maioria de North na Câmara dos Comuns caiu de vinte e dois para dezenove, e depois para um – em uma moção “de que a Câmara não mais poderia depositar confianças nos atuais ministros” (15 de março de 1782). O fato estabeleceu precedente histórico no sentido de uma ordem parlamentar forçar mudança de ministério. Em 18 de março, North escreveu uma carta a Jorge III dizendo que tanto a política real no tocante à América, como a tentativa para estabelecer a supremacia do rei sobre o Parlamento haviam falhado.
Vossa Majestade está bem informada de que, neste país, o príncipe reinante não pode, com prudência, opor-se à deliberação da Câmara dos Comuns (...) O Parlamento expressou seus sentimentos, e estes, justos ou errôneos, devem prevalecer em última instância. Vossa Majestade não perderá a honra se ceder.
Em 20 de março de 1782, após doze anos de paciente serviço e submissão, Lorde North renunciou. Jorge III, com ânimo abatido, escreveu uma carta abdicando, porém não a enviou. Aceitou um ministério de liberais triunfantes: Rockingham, o Conde de Shelburne, Charles James Fox, Burke e Sheridan. Quando Rockingham morreu (1° de julho), Shelburne sucedeu-o na qualidade de primeiro lorde do Tesouro. Fox, Burke e Sheridan, que não gostavam de Shelburne, renunciaram. Shelburne partiu, tendo em vista arranjar um tratado de paz (Paris, 30 de novembro de 1782; Paris e Versalhes, 20 de Janeiro e 3 de setembro de 1783) que entregava Minorca e a Flórida à Espanha e o Senegal à França, reconhecendo não apenas a independência das colônias americanas como o direito a todo o território entre os Apalaches, a Flórida, o Mississipi e os Grandes Lagos.
O povo inglês estava ansioso pela paz, porém ressentiu-se da cessão de tantas terras às colônias. As críticas a Shelburne chegaram a tal extremo que ele renunciou (24 de fevereiro de 1783). Como os desentendimentos entre Shelburne e Fox haviam dividido os whigs liberais em facções que não eram bastante fortes para controlar o Parlamento, Fox concordou em formar um ministério de coalizão com o seu velho inimigo, Lord North. Mais uma vez, Burke tornou-se pagador das forças. Sheridan, sempre endividado, foi designado secretário do Tesouro. Tanto Fox como Burke, já há algum tempo, estudavam o comportamento dos ingleses na Índia, e aquele país passou a substituir a América como o problema mais urgente da política Britânica.
Will Durant, História da Civilização, Vol. 10, A Era de Rousseau
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