sexta-feira, 11 de junho de 2021

A Pseudo Direita, o Fenômeno da Vídeo Cultura e a Retórica

 

Você sofre de Analfabetismo Funcional? Incultura? Ignorância Aguda, crônica ou inflamatória? Doutrinação Marxista-Leninista-gramichiniana, Deseducação Paulo Freiriana, miopia, astigmatismo ou paralaxe cognitiva? Não é capaz de refutar Newton, Eisntein, Kant ou outros tipos de idiotas incultos como jornalistas, escritores ou professores universitários? Seus problemas acabaram! Vire à direita, abra a carteira, tampe o nariz e escolha seu pacote de vídeo aulas! 
Apesar de associarmos à Retórica nomes como Demóstenes, Ésquines, Isócrates, Lísias, Cícero, Pascal... Olivier Reboul e não eu, adverte: "Para o senso comum Retórica é sinônimo de coisa empolada, artificial, enfática, declamatória, falsa..." creio que caberia, "ideológica, oportunista...esquerdista", eis a Retórica da pseudo direita cultural brasileira. Mas os fatos são outros e entre tantos, primeiro que há retórica na literatura ocidental pelo menos desde o canto IX da Ilíada e segundo, que a pseudo Direita cultural também cultiva chavões, fetiches e panelinhas... um Jabuti é testemunha... 



Além da "retórica" do título e do slogan, que mais além de retórica haveria no livro do Sr. Gurgel? Literatura?! O autor também ministra cursos online. Aliás, essa moda pegou depois do grande sucesso de seu professor - Filósofo da pseudo Direita - no Youtube e no seu Curso Online de Filosofia. Basta o professor do professor dizer que gostou de um autor que parte do mercado editorial entende - publique-se porque a coisa é "conservadora de direita" e vai vender! E de fato vende mesmo, o professor é um astro e "muito persuasivo". Semelhante fenômeno ocorreu e ocorre com Youtubers, booktubers, blogueiros, ex-atores pornô, roqueiros decadentes, ex-feministas ukranizantes, bbbs soprano-stridentes e candidatos à presidência da república. Tem até blogueiro que mal fala um português razoável quando brinca de jornalismo, dando aulas de, pasmem, Tomismo! 

O mais interessante é que o professor do professor já tinha dado uma aula em seu curso on-line de filosofia acerca deste uso inapropriado do referido vocábulo: 

"Um desses lugares comuns, ou topoi, diz respeito ao uso da própria palavra “retórica”, que entrou na mídia brasileira através dos "meus dois livros": A teoria dos quatro discursos e o Como vencer um debate sem precisar ter razão, (na verdade, o título do primeiro livro citado é Aristóteles em nova perspectiva, e do segundo, o professor só é dono do prefácio do livro cujo o autor é  Schopenhauer) principalmente deste último, que fez um sucesso  enorme e todo mundo leu. Daí todo mundo começou a falar de retórica e usar todos aqueles  termos: argumentum ad hominem, tertio non datur, que começaram a proliferar por todos os  lugares imediatamente, mas todos usados à maneira brasileira, na base da macaqueação, sem  tê-los examinado mais profundamente. A partir daí se distribui pela mídia brasileira, sobretudo  nos debates ditos cultos, um certo uso da palavra retórica que ele mesmo denota um fenômeno  muito raro de incompreensão. (...) "

O professor continua descrevendo e diagnosticando:

"Trata-se daquele fenômeno que eu já descrevi, que é também tipicamente brasileiro, de se usar uma palavra pela impressão  emocional que a própria palavra causa. A própria palavra gera uma reação emocional, pelo fato  de ela ter sido usada reiteradamente da mesma maneira. Quanto mais usada neste mesmo  sentido, mais o efeito emocional é automático, sem que seja necessária a mínima referência à coisa que ela supostamente designa (ah! a ausência do referente na linguagem afetada, Olavo chamava de vocabulário psicótico, um dos sintomas de analfabetismo funcionial em estágio avançado... quem diria). Se você se acostumou com a ideia de que retórica é uma  técnica elegante de mentir, é claro que a palavra vai causar um efeito negativo ou pelo menos ambíguo, você conta com isso." 
 
O professor explica como a Filosofia necessita da Retórica:
 
"Nem sempre contamos com um arsenal terminológico pronto e perfeito. No início de um estudo, quando  ainda estamos sondando um assunto, é normal usarmos os termos com os quais a coisa é designada no debate geral, para depois, à medida que o estudo avança, tentarmos defini-la de forma mais precisa. (e isso faz parte da natureza da filosofia, ensinava o professor do professor, lição de Hegel: a dialética avança superando conceitos parciais ou até falsos) mas temos que usar os conceitos parciais que são os únicos a nossa disposição no início, e são exatamente aqueles que são usados no debate público. Novamente o professor nos lembrava que só existe uma dialética onde existe uma retórica antes. 
 
E o que é uma retórica? é a arte da persuasão, é uma maneira de induzir as pessoas a fazer algo que você quer que ela faça. O argumento retórico  não é verdadeiro nem falso, ele tem que ser persuasivo! Ele pode coincidir com a verdade ou coincidir com o erro. Retórica não visa enganar as pessoas, mas também não visa lhes dizer a verdade.  Visa tão somente induzi-las a uma determinada ação. 
 
Se não há uma multiplicidade, uma rede discursos retóricos circulando na sociedade a mente dialética não tem o que  examinar porque a dialética é confrontação dos discursos retóricos contraditórios e a sua articulação e comparação em termos mais rigorosos para se chegar ao que? uma proposta de ação? Não! Para se chegar a uma aproximação da verdade naquele debate.  Então é claro que todo exame dialético parte de termos usados retoricamente, mais tarde, no curso do exame, você vai superá-los e jogá-los fora."Ual... Certamente o autor não consultou as aulas as quais faltou antes de escolher o título de seu livro, que pena!

Olivier Reboul em sua Introdução à Retórica nos remete a um diálogo Socrático onde  Górgias argumenta que se um retor e um médico se candidatassem ao posto responsável pela saúde pública de uma cidade sairia vencedor o primeiro dado o poder da retórica. Teria sido desta forma que os astrólogos se tornaram filósofos e mercadores, críticos literários? Eu não sei...   marqueteiros, oportunistas, sofistas... existem  desde a antiguidade se declarando capazes de qualquer coisa vender e até mesmo, por que não, vender-se.

"Não há ilustre capitão que nunca tenha tido gosto nem sentimento pelo patrimônio do espírito humano. Por trás das vitórias de Alexandre encontramos sempre as conquistas de Aristóteles". Charles de Gaulle.


Sim... Le Brésil n'est pas un pays serieux!

Mas os cursos de Escrita Criativa ou Oficinas Literárias e afins destacam-se dos demais empreendimentos culturais da pseudo direita, não pelos frutos (eles não produziram mais escritores do que a USP, filósofos como eles próprios dizem... mas pelo preço -  são caríssimos... reconheçamos - esse pessoal é bom de retórica, haja eloquência! ; )



Vá ler livros, Zé Mané! 

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